sábado, 25 de dezembro de 2010

Desmaquilhante de Natal

Faz precisamente um ano que me encontrava em estado depressivo e para que não fosse notório brincava ao Natal com todos. Fiz todas as refeições com quem tinha que fazer, troquei presentes com quem tinha que trocar e passei praticamente o tempo em casa amargurada com a sorte da minha vida, ou falta dela, pensava, então.

A falta de sorte na minha vida era atribuída ao facto de não ter uma família minha. Sem conjugue nem crianças comecei a cair na esparrela que a sociedade prepara aos solteiros de meia idade: sem família não se pode ser feliz no Natal....nem em geral.

Ora, hoje, escrevo exactamente para vos contar do que aprendi com muita calma e atenção sobre o que retive deste período festivo que mostra toda a falsidade desta máxima em sociedade.

1º Nem todos escolheram o conjugue com quem vieram a formar família e se o fizeram , por vezes, foi por não quererem ficar mais tempo sozinhos com receio de nunca poderem vir a formar a tal família cobrada pela sua própria família ou ainda por julgarem que não haverá mais ninguém disponível para os amar. 
Os defeitos só pesarão na gerência quotidiana após o nascimento do primeiro filho  e eis quando se começa finalmente a conhecer o conjugue e as consequências da escolha.


2º A maior parte dos casais não têm noção do passo que é a maternidade/paternidade na transformação dos seus quotidianos e a exigência que a educação pressupõe para não se criarem adultos desequilibrados ou monstros.
Falta de tempo, paciência, assertividade e carinho são desculpadas assíduamente com presentes com que se podem distrair as crianças até á fase da adolescência. Depois, começa-se a pagar a factura.


3º Se a vida sexual do casal, enquanto casal não era vivida em plenitude e com entusiasmo....depois da maternidade, acaba de vez e passa-se á desculpabilização do factor de responsabilidade de encarregado de educação, tenham ajuda de terceiros, ou não. 
Acaba o casal e começam as relações extra-conjugais ou os estados depressivos conduzindo o individuo a estados compulsivos de variadas naturezas. Isto, está claro para os que insistem em permanecer casados, mas solitários.


4º A nossa família não a escolhemos, herda-mo-la ao nascer; assim como aos sogros que vêm por acréscimo; e assim que se passa a ter a própria família, por vezes, tensões surgem que nos vão afastando das nossas famílias nucleares assim como dos sogros herdados. A não ser , claro está , que as relações sejam completamente protocolares e superficiais.


5º Os meus amigos divorciados acabam por ser os mais divertidos e bem dispostos durante esta época : não têm que estar com os sogros com quem, especialmente nunca gostaram de privar e podem sempre optar por partir para umas pequenas férias para a neve com os pequenos. E ainda se podem dar ao luxo de escolher com quem querem passar este período tão emocionalmente desgastante,pois têm a desculpa de quererem estar a usufruir a 100% das suas crianças.
Ao contrário do que se diz, os psicólogos chegaram á conclusão de que se os pais mantiverem uma relação sã pós divórcio, as crianças serão tão ou mais felizes do que numa família de "faz de conta".
E as crianças só têm a ganhar, pois levam sempre o tempo e a dedicação exclusiva de cada um que tenta sempre dar o seu melhor.

6º Os casais que sobreviveram com as suas famílias e descendência são casais que desde sempre tiveram muita cumplicidade no seu quotidiano e como tal o sucesso familiar é visivelmente sem esforço e amargura, pois a nomenclatura sólida da relação foi baseada na partilha e comunicação. E esse é o meu conceito de família. 


7º O conceito de presentear os mais próximos durante esta época resulta quase sempre num balanço de pagamento de factura pelos pecados cometidos durante todo ano. A corrida aos presentes mais dispendiosos para agradar no final do ano é obviamente um sentimento de culpa pela falta de todos os outros valores intrínsecos ao conceito de família. E não seria mais apropriado dar o tal presente num momento assertivamente recompensante ?
Porque não presenteamos o ente querido quando este nos mostra o desejo por tal?


Ora, depois de constatar tudo isto, o que me leva a estados depressivos durante esta época?
Ter que lidar com situações de "faz de conta" durante as várias refeições festivas , supostamente , de confraternização e não de acção de maquilhagem como acabam por ser;
Ter que trocar presentes quando não tenho vontade de o fazer;
Ter acreditado até recentemente que ter uma família era o conceito de felicidade máxima e de estabilidade emocional para a minha sobrevivência.


Este ano fez-se luz por tudo o que tenho vindo a constatar ao longo destes anos e finalmente posso dizer que agora sim, já posso decidir que tipo de família quero...e não é nada do que vejo á minha volta; excepto concretamente algumas famílias que guardam consigo o belo segredo da conquista e trabalho afectivo diário; pois como já é do conhecimento comum, nenhum bebé sobreviveria mais do que poucos meses sem amostra de amor e afecto.
E de crianças amadas crescem grandes homens e mulheres.


Um ano cheio de amor, partilha, comunicação, cumplicidade e dinheiro para manter tudo isto mais fluído :-)


E ainda um grande xi-coração ao meu irmão por ser como é !





quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Surf na Sumatra

Saí de casa ao final da tarde na esperança de mudar a configuração dos meus pensamentos.
Em 5 m estava na Fundação Oriente onde estaria a Sofia á minha espera para irmos para o nosso bar á beira rio onde tanto gostamos de trocar conversa.
Estava a atender clientes e veio-me cumprimentar, confidenciando-me algo que viria a ser o motor do seguimento dos eventos a narrar.

Decidi subir até ao 5ºandar onde se passaria então - o dito evento que a Sofia me sussurrara enquanto me abraçava e que estaria ligado á prática de surfe.

As portas do elevador abriram-se e os 2 homens: um, obviamente surfista e outro senhor com ar muito distinto deram-me passagem.
Imediatamente o sr. de ar distinto começou a confidenciar-me que tinha ficado muito impressionado com um chá chinês que comprara á Sofia e que consistia só numa flor , sendo uma ideia de presente lindíssima para uma senhora.
Aquiesci com um sorriso confirmando que já o experimentara e logo o sr. quis saber qual era o meu programa e a razão de falar um inglês assim...
Quando lhe disse que era guia-Intérprete e que estava ali para ver o livro sobre o surfe na Sumatra , o Sr.Hussain, que agora me dava um cartão de apresentação onde estaria escrito : embaixador do Iraque, pediu-me que o seguisse , pois ele seria um dos speakers nesse evento.

E, curiosa de essência, lá o segui lado a lado com uma vontade enorme de lhe perguntar o que é que o embaixador do Iraque teria a dizer num evento sobre a Sumatra...

( Se alguém me vir ao lado do Sr. Embaixador do Iraque a entrar na sala do evento como se fosse a sua companhia aquando os flash dos fotógrafos dispararam...já sabem que foi um mero acaso de percurso.)

 Muito gentilmente propôs-me que me servisse um copo de vinho e que me juntasse á festa.
Invadido pelos media, afastei-me rapidamente e peguei no livro em lançamento , sentei-me e deliciei-me com as fotos e textos lindíssimos dos surfistas da nossa praça Atlântica, mas em Sumatra.
Só fui interrompida por uma das meninas que faziam assinar o livro em questão que me perguntou se seria alguma das surfistas naquele livro. Respondi-lhe que não, sorrindo e insistiu para que o assinasse na mesma.

Curiosos eventos, mas que fazem pequenas histórias para um dia contar a amigos enquanto se trocam episódios bizarros na nossa vida.
Uma sequência de eventos que renderam á Sofia, aquele sorriso ambíguo entre o desvario e a incredulidade e que me repuseram a boa disposição.





terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado,viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não.
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Expresso'

domingo, 5 de dezembro de 2010

Trilogia Americana - Berry, ou a riqueza de viver a vida

Conheci o Ray como cliente enviado de N.Y. . Acompanhava a sua neta mais velha numa descoberta da Europa visitando a Península Ibérica e Grécia.....What are the odds??
Visitámos Lisboa e Évora e ainda os levei a conhecerem a praia da Alfarim onde Sophie se deliciou com o tamanho das ondas.

Este meu acto lúdico de entreter a jovem adolescente para além de património arquitectural e histórico valeu-me o início de uma boa amizade com Ray que uma vez de volta a Naples ( U.S.) continuou a contactar-me via email com alguma assiduidade.


A sua história resume-se á felicidade de ter tido um percurso familiar longo, consistente e verdadeiro com a sua falecida esposa.
Enviuvara há 3 anos e ultrapassados certos hábitos rotineiros em conjugue, mantinha agora a persistência de querer usufruir do património que construíra , fruto do seu trabalho e habilidade económica, assim como das receitas da sua própria herança.


Ray é presidente e CEO da cadeia de supermercados Freshmarket e para festejar a recente IPO da sua empresa , agora cotada na Bolsa de valores, fez-me o convite para o acompanhar a Paris onde iria negociar um Chagal que tanto queria desde há 1 ano e comemorar o início de um novo episódio da sua vida, a pré-reforma.


A proposta foi aceite e uma vez em Paris , o programa foi variado e extenso. Cheguei cansada, mas certa que tinha feito um grande amigo para a vida.


O Chagal, da série de flores em jarra, ficará sobre a chaminé da sua casa no Colorado e a tela de Cabellut pela qual me apaixonei e a qual nunca pensei que prendesse a atenção de Ray, ficará na sua nova casa em Miami. 



Fica também uma bela recordação da escapadela em TGV a Mont St. Michel e a variada gastronomia Normanda sempre acompanhada por excelentes tintos Margaux ou Pommards.


E a promessa de uma próxima visita a Lisboa , onde Ray e o seu arquitecto, visitarão salões de decoração de cerâmica e farão uma recolha de imagens da arquitectura Portuguesa, pois afinal a sua futura casa de praia em Miami vai ser de influência Lusa.


Será com muito prazer que reverei este senhor que tanto fez para se conseguir realizar num negócio criteriosamente compatível com o  seu bem estar e  o dos outros, mas também o altruísmo visivelmente projectado para o mecenato onde grandes somas oriundas da recente IPO serão doadas a um cientista amigo que produz tecido celular através de liquido amniótico .


Um senhor discreto que gere e cria mais riqueza que qualquer grande empresário do nosso território.

Enfim, um grande senhor.
De psicólogo infantil para o sector primário...com amor.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Palavras par viajares...

Ainda nesse breu da quase aurora invernal
escapa-te a cor ocre dos chaparros,
o movimento sensual dos seus troncos desnudados neste verão que passou.

Como sempre, escapa ao mero passante, a arte de despir as árvores,
a mudança de manto rasteiro ao seu redor,
a ausência dos animais e dos insectos,
porque é tempo de hibernar.

É tempo de recolhimento porque o corpo pede á mente;
É tempo de olhar as fugalhas estaladiças numa lareira que por algum tempo pode ser a nossa;
De cheirar o calor dos corpos abafados pelos lençóis;
Esperar que as filhós levedem no alguidar
E sentir através da janela o frio que imagina a neve por além.

É tempo de acariciar todas as palavras que se vão dizendo
porque temos mais tempo para repensar o acto de acordar
para a vida e para as paixões.

Quando entrares no Caldeirão o céu já estará mais próximo de ti
E a terra gritará a tijolo.

Não notarás a diferença entre alfarrobeiras e amendoeiras;
As lendas moiras ainda não desabrocharam em branco;
As chaminés preguiçosamente libertarão os primeiros fumos arrendados a cal
Porque, então, o sol trará o cheiro a café e torradas.
E no mercado de Loulé já haverá frésias apanhadas em Monchique.
O Paixanito e... a sua lista infindável de acepipes.

E quando estiveres de regresso depois de tanto pedalares
poderás pensar em tudo o que  poderás ter apreciado
ou talvez só memorizado-
em efémeros segundos-
se a velocidade dos teus pensamentos não te tolhesse o tempo da contemplação.

Um dia vou ensinar-te a viajar no tempo :-)

domingo, 31 de outubro de 2010

Tão só .... e tão grande !

Passar pelo Guincho, a que horas forem , independentemente da estação do ano é sempre uma lufada de ar fresco .
 Venham os turistas do Norte da Europa, do extremo asiático ou do sul  de África ninguém fica imune ao poder da natureza.
Mais uma vez lembrei-me de Turner e da importância da cristalidade da água; dos mares revoltosos; da tragédia anunciada e da luz sempre intemporal.

Se por vezes não conseguimos organizar e dominar os pensamentos, perante este espectáculo  onírico, a mente desagua no oceano e tudo o que era problema ou questão desvanece-se e passa-se a um estado contemplativo de pré-meditação ....se nos conseguíssemos alhear de tal beleza...

São estes dias que me vão preenchendo esta ansiedade inata de tudo querer conquistar,
Que me fazem acreditar por breves momentos que a solidão é só: 

Eu e a impossibilidade de não poder partilhar tudo isto com alguém.

domingo, 24 de outubro de 2010

Saltimbanco chinese poles


Mais um excelente espectáculo do Cirque du soleil onde a cor, o movimento e a boa disposição me levam para um imaginário que funciona como o meu refugio de infância : rir ás gargalhadas imaginando o que fica em entre linhas e sair extenuada de tanta energia em palco.

 Continuam a surpreender pela destreza artistica e capacidade de inovação.
 Atipicamente, circenses, no nosso país onde o conceito de circo ainda continua a ser a domesticação de animais e os palhaços rico-pobre...algo já caduco e fácil de aborrecer qualquer comum mortal pela mecânica do espectáculo tão previsível quanto cheio de lugares comuns ; este é um circo para quem quer treinar um pouco a imaginação em detrimento do consumo do "fast circus".

terça-feira, 19 de outubro de 2010

De volta ao liceu

Recebi um sms do Carlos Paulo que anunciava um jantar na sua nova quinta em Azeitão onde a ideia era reunir os nossos colegas do 9º ano que continuaram a sua cumplicidade por muitos anos mais, ou seja durante praticamente o resto da adolescência até á idade adulta com alguns interregnos.
A turma era conhecida no liceu como uma turma insubordinada que alguns professores temiam por não nos conseguirem dominar . Enfim, irreverentes e a maior parte deles futuros artistas da nossa praça.

Falar desses momentos áureos do liceu é minimizá-los , pois são sensações quase impossíveis de descrevê-las devido á sua intensidade.
Ficam óptimos momentos recordados nesta fantástica festa de Azeitão onde nos revimos 25 anos após o nosso primeiro encontro, mas mais importante foi constatar que a cumplicidade entre nós nos devolve um brilho extenuante no olhar e dos mais doces sorrisos por sabermos que continuamos com vontade de nos superar.
Dançámos todas as músicas que nos transportaram aos anos 80 ; confidenciámos entre tintos de Azeitão e Alentejo e rimos á volta dos sobreiros da casa por onde de vez em quando jogávamos aos policias e ladrões... agora, 25 anos depois.
Á Lisa, Raquel, Lena , Paulo P. , Isabel A. e Carlos Paulo....adorei a ideia de continuar a rir-me convosco!
Um grande bem-haja!!!

domingo, 5 de setembro de 2010

Good bai que eu good fico

Ainda sinto a tendinite persistente e agravada pelas bolas que atirei para o Jung ter os seus momentos heróicos, embora lentos. A vida de um cão no Verão também é vivida diferentemente.

E, porque a vitamina que recebemos do sol nos faz ter a percepção mais facilitada de felicidade...penso agora nos últimos dias de Verão que já se anunciam com as noticias na TV que já não falam de incêndios nas florestas, mas de outras rentrées; no sol que está mais perto da nossa latitude; nas moscas que já andam atordoadas com as vindimas; na luz que entra pela sala adentro obliquamente; no trânsito que já perturba a paz de uma Lisboa antiga e nas manhãs frescas que tanto gosto de saborear á varanda.

E como estamos mais receptivos á mudança nesta estação , talvez por estarmos literalmente mais despidos de camadas superficiais ao nosso corpo, o balanço vivencial e emocional é sempre positivo:
O Jung só me pediu para lançar a bola 300 vezes;
A Margarida continua a alongar o tempo da refeição ,mas aprendeu a nadar comigo em 10 minutos;
O Paulo passou metade das férias a pensar em trabalho, mas portou-se como uma criança enquanto brincou comigo;
A Claúdia cozinhou o tempo inteiro, repastos dignos de mesas de Deuses para não resistirmos á Gula;

O Verão é mesmo assim: faz-nos sentir bem na perspectiva da manutenção do que temos e capazes de o suportar por mais algum tempo.
E quero manter o sorriso do meu sobrinho;
A frescura das manhãs de Setembro;
Os aplausos para o pôr do sol no bar do peixe;
Os festivais de música rock em grandes espaços ao ar livre;
O meu trabalho que é tão mais compensador quando faz bom tempo;
Uma boa companhia e boa bebida á beira Tejo depois do trabalho;
O sentimento de confiança em si própria da minha irmã;
As gargalhadas da Teresa Albarran;
Os jogos de futebol e de rugby na praia;
A casquinha de Sapateira e cerveja preta depois de um dia de praia;
O calor desenfreador da libido;
A cumplicidade da Sofia M. que se traduz em férias hiper- descontraídas;
O teu odor deixado nas tuas curtas passagens em dias de calor ;
As pessoas que sorriem só porque é Verão;
Os amigos que organizam tantas saídas para podermos falar de tudo e de nada sem pretensões a intelectualismos;
por fim
á fé que tenho, durante esta estação, num futuro radioso mesmo que faça frio.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Saboreando veraneios

Dedico o ultimo dia de Agosto a um breve texto que li recentemente do Miguel Sousa Tavares sobre o Verão....que tanto saboreio ao minuto.


" Há vários indícios seguros da chegada do Verão. Espero-os sempre, atento e ansioso, porque preciso do Verão, desesperadamente. O primeiro indícios são as meloas do Algarve e o seu sabor único, irreproduzivel. Depois, são algumas manhãs de Lisboa, com uma espuma marítima suspensa sobre a claridade do dia, e , á noite, os sons da cidade que passam de bairro em bairro, a vizinha que chama o filho, o cão que ladra, o táxi na esquina, uma música que vem de lugar oculto. Em Junho as mulheres começam-se a despir por partes e os pássaros vêm morrer de encontro ao pára-brisas do carro na estrada, porque eu vou mais depressa do que o seu voo pesado. No campo, instala-se um ruído de fundo que é o das cigarras gritando de calor, e, ao fim do dia, oiço as árvores estalar de alívio.
Na primeira noite de verão, estendo uma rede nordestina no terraço e deito-me para dormir lá fora, deixando uma vela a arder dentro de uma lanterna marroquina, porque atrai os mosquitos para a luz e porque o terraço parece ficar um lugar encantado. E vou adormecendo aos poucos na rede, como um cão adormece, com um olho aberto e outro fechado, nesse prazer prolongado de habitar entre duas fronteiras, a do sono e a da vida.

(....) Espremi um sumo de limão para um copo cheio de gelo, espreguicei-me até sentir que os membros voltavam todos á posição normal e caminhei até ao ribeiro que, nesta altura do ano, tinha só dois palmos de água, mas transparente, no seu leito de pedras, areia e plantas aquáticas. Descalço, mas vestido tal como tinha adormecido e acordado, deixei-me cair lá dentro, com a cara contra as pedras e os olhos bem abertos, como se assim me pudesse transformar em peixe. Virei-me ainda de costas e fiquei a sentir a água a correr entre os cabelos, recebendo na cara o primeiro sol da manhã como a faca que passa a manteiga no pão.
 Por mais que tente explicar-te tantas e tantas e tantas vezes, nunca te direi vezes que cheguem como é bom estar vivo . "

E é bom saber que existem homens que sentem assim...ou pelo menos que escrevem sobre sentimentos, simplesmente, assim.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Pirosas por opção

As primeiras páginas da revista Visão na sua edição especial sobre a república são dedicadas a alguns  hábitos de lazer nacional no inicio do séc.XX e para minha delicia,algumas fotos a preto e branco de eventos politico-sociais dos quais só sabemos por esta via.

Achei por bem reescrever este pequeno texto para relembrar que as ditas, pretensiosas "tias", que nem de Cascais são, originalmente, têm esta herança topológica que lhes agrava mais esse estatuto que ridiculamente querem manter ; e como de vez em quando tenho que me cruzar com algumas... agora já posso esboçar um sorriso para desvanecer a carga negativa que me emitem á sua passagem e já posso convictamente pensar que são mesmo pirosas.

"A zona de Cascais, eleita pelos Braganças como um dos poisos de veraneio - iam para lá em Setembro e Outubro, depois de uma estada no Palácio da Pena - , tornara-se um sítio "bem" desde que a rainha D.Maria Pia, mãe de D.Carlos, possuíra o seu chalet no Monte Estoril. A Cidadela, ainda uma das residências oficiais dos Chefes do Estado (em meados do século XX Óscar Carmona e Américo Tomás passariam ali muito tempo) era o ponto de partida de D.Carlos e da corte para viagens no iate Amélia, excursões pela praia com os respectivos banhos de multidão, garden-parties e torneios de tiro aos pombos.
Os burgueses endinheirados, eternamente simbolizados pela família Pires (daí o adjectivo "pirosos") gostavam de se aproximar das testas coroadas e de contar depois na Baixa as frases que tinham ouvido da boca do Rei. Assim nasceu a maneira afectada de falar dos "tios" e das "tias". "

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Contemplando com tempo no templo

Aproveito o tempo livre que tenho nos santuários que fazem parte do programa para fazer o meu retiro espiritual , não sem deixar de praticar um voyeurismo que me remete para a certeza de querer continuar a conservar o meu gnosticismo.

Os templos são espaços criados por gente sábia, sensível ao físico e ao espiritual e como consequência as obras resultantes destes estudos megalómanos como catedrais, Basílicas e Mesquitas, impuseram-se por todo mundo pela necessidade imperialista de controle de poder,de manipulação e de segregação social- por contraste aos templos de origem oriental onde se criaram templos para fortalecer o individuo como ser espiritual.

A história de Fátima, assim como a de outros santuários no mundo onde se recorra á penalização do corpo para elevação do espírito ou factura pro-forma de graças concedidas por Deus, são - na minha convicção - espaços que valem pela sua conceptualização de volumetria, geometria e projecção espacial, a mesma que na Renascença levou artistas Florentinos a ousarem a projecção dessa espiritualidade necessária ao alimento da alma.

Ora, aqui nesta nova Basílica de Fátima , onde o minimalismo decorativo e arquitectural nos remete para o abandono material e nos faz sentir á escala humana, o Cristo no altar-mor é por excepção a única presença que me leva a crer que existe alguma seriedade, afinal, nestas habitações de Deus.
Aqui, Cristo é fisicamente representado como autóctone do Médio -Oriente; as suas barbas aparadas esteticamente como na família de David dão-lhe a graça judia; e o seu tronco magro e frágil em relação aos membros inferiores fazem jus ás cenas contadas nesse romance bíblico onde Jesus passa todo tempo a calcorrear grandes distâncias.
Enfim, sinto-me em paz nesta criação religiosa que me apraz no espaço que escolho para recolhimento, mais uma vez, na tentativa, não de encontrar Deus, mas de me encontrar na minha paz.
O meu templo temporariamente recolhido noutro templo;
A minha paz de pazes feitas com os meus sentidos anarquizados;
A minha vida revisitada numa síntese docemente ancorada pelo amor.

domingo, 15 de agosto de 2010

Interlúdio em crescente

É com alguma certeza de absoluto descanso que parto para St.André onde encontro não só em casa como naquela praia extensivamente deserta os meus momentos de abandono total.
Não existem horas, ou se existem , não se mostram em nenhum relógio.
As manhãs acordam-me sorrateiramente pelo jardim adentro e como não tenho aviões a passarem constantemente naquele céu tão limpo, julgo-me perdida.
O pequeno-almoço toma-se sem avisar, vai-se preparando-o e logo acordam os restantes membros da família que se juntam nestes despertares tão suaves.
Nunca se fazem planos, ouvem-se os desejos momentãneos do estar e acatam-se vontades de ser simplesmente um veraneante num dia quente com cheiro a estepe e a rosmaninho. O "lá longe" surge através do som do mar que se envolve na brisa para nos indicar o oeste. E caminhamos pelas dunas infindáveis quando o calor já aperta. Por entre pinheiros, armérias e cactos suculentos há sempre o indicio de um mar entre o verde e o azul. As conchas esperam ser apanhadas para adormecerem novos bebés em forma de play-mobile e as pequenas ondas deste mês tentam-nos na sua inesperada doçura.
Há tempo para tudo. 
Há tempo para olhar e reter a paisagem quando se fecham os olhos.
Há tempo para cheirar a maresia e armazená-la como memória de infância.
Há tempo para tocar na areia e sacudi-la da nossa pele já queimada.
Há tempo para amar em segredo sem corpo e sem espaço.
Há tempo para pensar que tudo o que se passa á volta é efémero e por isso tão precioso.
E por falar em tempo...fico a contar os dias para lá voltar para a semana.


 

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Chuva de estrelas

Ontem anunciavam uma noite de estrelas cadentes e normalmente teria saído para uma esplanada com uma amiga para as observar e deliciar-me com uma chuva de desejos emergentes....
Tinha acabado de estar alguns dias com duas estrelinhas que me perpetuam o bem estar desde há algum tempo e derrepente vi-me sem desejos para equacionar.

Telefonei a outra estrelinha e fomos ao cinema; e alheei-me da possibilidade de insistir no mesmo desejo latente que me assombra desde algum tempo . Estrela que nem é cadente nem ascendente...está latente no meu universo que se encontra em stand-by.

E entre os vareneantes de Agosto e um filme duro de ver retornei a casa com a sensação que os meus sentidos que recordam e identificam as estrelas que quero guardar no meu tecto celeste, hão-de estar manipulados pelo sabor da beleza, do cheiro e do toque que me almareiam os dias e as noites em prol de uma ilusão que criei com sabor a felicidade.

E é bom saber que se é feliz mesmo quando não se consegue colocar todas as estrelas que queremos, no tecto do quarto, antes de adormecer á sua luz velante das certezas de que só estamos a passar por elas.

sábado, 7 de agosto de 2010

Carmen Souza no museu do Oriente


Quando a Sofia me ligou a perguntar se queria ir a um concerto no dia seguinte no museu do Oriente prontifiquei-me a dizer-lhe que sim, pois não só sei que consegue sempre surpreender-me pela positiva com os concertos no museu como com os pós concertos, que desta vez incluiu o prazer de me dirigir á Carmen de Souza e seu marido, contra-baixista da banda, como ainda fomos falar sobre viagens para o nosso tão querido bar "Á margem" com as primas de Londres.
O Verão tem destas coisas boas: musica com voz quente e ritmos afro-jazz, bebidas frescas á beira-rio e conversas sem fim, vindas de todos os cantos do mundo e partilhadas por gentes de olhar brilhante.
A vida é bela....quando estamos abertos á novidade !

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Trilogia Americana - O mundo pós mercado financeiro

Escrever sobre a sequência de 3 trabalhos diferentes que tive com clientes que passaram por Portugal e que tão boas recordações me deixaram, é sempre um prazer.

 O primeiro cliente, Senior Managing Director and head of Blackstones's Co., reformou-se bem antes da idade prevista visto ter feito fortuna com H.Funds e daí decidido a conhecer o mundo para além das curtas passagens em serviço.

A sua passagem por Portugal tinha sido anteriormente reduzida a uma estadia curta pelo hotel Ritz em Lisboa e a latente curiosidade de conhecer o resto do país era aguçada pela história dos valentes navegadores, mas também pela perspectiva mercantilista deste povo da ponta extrema da Europa que iniciou o conceito de globalização que passou a ser não só uma realidade adquirida como um problema no horizonte futuro da economia mundial, ou seja, um tema que lhe é muito querido.

A sua companheira de há longa data já não era tão entusiasta nem informada quanto Howard, nesta aventura em terras lusas ; tanto tempo de casamento onde cada um viveu para a sua profissão rendeu-lhes uma inocuidade vivencial onde ,casal ,tornara-se uma mera figura de estilo. Não sei do que gostou e se gostou, mas o silêncio de quem não opina...não me deixa indiferente.

O percurso incluiu uma nuance temática ligada á comunidade judia em Portugal e visitamos o país de Évora ao Douro, conhecendo não só o património arquitectoral mais relevante, mas também a gastronomia e o bom vinho do Alentejo e do Douro. E ,Howard para meu contentamento é um "connaisseur" de história e da vida á mesa.

A gratificação desta profissão de guia viajante é realmente a troca de saberes e de sabores que se proporciona com clientes que tanto nos ensinam sobre as suas perspectivas enquanto viajantes.
Do seu balanço positivo fica, como sempre, a hospitalidade portuguesa e a qualidade dos hóteis e do património cultural.
E também o Chryseia 2007 que Howard guarda desde 2009 na sua cave.


quarta-feira, 28 de julho de 2010

Paris - Convento do Espinheiro 2010

Mais uma escapadela na cidade das luzes que  me é tão querida!
Assim , como em Lisboa, a cidade respira a cadência temporal dos humanos, porque é Julho. 
O ar é mais puro e até as borboletas se despem da sua timidez  bucólica.

Desta vez, com o meu guia privado, calcorreei Paris pelos bairros não tão correctamente turísticos e aí senti o que sinto ao atravessar a praça de Martim Moniz até ao Palácio da Independência.
Os paramentos multi-colores, os odores, a polifonia das línguas, as multidões da Diáspora, tudo o que Paris esconde  nos livros turísticos e que fazem estes percursos serem tão autênticos quanto os pseudo- intelectuais Parisienses saboreando o jornal no " 2 Magots".

 Vincent, prefere sobrevoar Paris em helicóptero...a minha irreverência leva-me a convencê-lo, diplomaticamente, a perder mo-nos pelos bairros onde as ruas não têm nome; e vou contando-lhe as minhas histórias Parisienses enquanto se esquece que estamos a andar há horas.

 E quem fala da noite, senão um poeta que abraça as trevas, o secretismo de uma lua em todas as suas fases? 
O meu silêncio é audível , assim como a falta de um trovador para cantar um amigo....


Bandas de jazz de rua, folk dos E.U.A em peregrinação, tudo ambiciona quebrar o silêncio de poetas que cantem as pontes de Paris.

 Tirei uma foto à Pont neuf para não deixar de recordar  Juliette Binoche.
E assim , vou guardando imagens e episódios  que só poderiam ser memorizados pelo viajante e não pelo turista.
Bastaram-me 7 fotos para crer que Paris nunca muda na sua permanente capacidade de surpreender....outra vez. 
E quem ama assim Paris, ou está apaixonado ou retirado num convento a escrever sobre Paris .
Obrigada, Vincent, por te renderes aos prazeres de andar sem rumo. 

terça-feira, 20 de julho de 2010

Amo-te, Meco!

O que sabe muito bem quando se parte de mochila ás costas para 3 dias de festival de música é realmente o sentimento de evasão e de abandono momentâneo da sedentariedade inerente á rotina quotidiana.
O facto de saber que tudo pode acontecer e que nada foi pensado a nível de logística de estadia ou de horários, é por si só libertador.

O programa para os 3 dias era óptimo e o facto de haver sempre a tenda de música electrónica com bons D.J's fazia a nossa estadia bem mais extensa. 
Dos vários artistas que por lá passaram não vou falar,pois todas as actuações foram boas e o espaço onde tudo foi organizado, em pleno Meco, não poderia ter ficado mais perto do coração.
A grande surpresa do programa foi um Laurent Garnier com a sua postura "d'enfant terrible" na festa que se passava na tenda electrónica. 
 Já o tinha visto havia mais de uma década, mas não tão terrivelmente em forma e rodeado de músicos de um nível tão excelente ; um saxofonista e um teclista com grande poder de improvisação.
Ok, uma referência- quand même- ao Prince : super profissional! Fez o que era esperado, um grande concerto onde a Ana Moura também deu a sua nota especial.
E já posso guardar a sensação de experimentar a chuva púrpura que encerrou a sua actuação. Efeito borboleta!!

Entre festival, praia e Bar do peixe, o humor não poderia ser melhor , afinal o que há de melhor para todas as situações (más ou boas) senão bons amigos? Pois a companhia foi o melhor de todo este percurso de volta á adolescência ou fase jovem adulta.
 
De facto, uma praia tão bonita com poucos banhistas; a água do mar que estava a uma temperatura bem mais simpática do que normalmente e um bar que tem excelente pessoal descontraído a servir ás mesas e clientes tão divertidos e sociáveis....que mais se poderá querer senão juntar mo-nos todos e aplaudirmos o pôr de sol desde que este toca o horizonte até ao seu desaparecimento ? 
É o espectáculo da vida, ali no Meco. E é partilhado por todos nós.


A vida pode ser o maior espectáculo quando temos amigas que entram em carros alheios pensando que estão no nosso...; quando afirmamos que estamos cansados de ser felizes de tanto rir...; quando encontramos gentes insaciáveis que se aprontam para rir em grupo...; quando existem ao nosso lado pessoas que sabem e gostam de partilhar o que há de bom na vida...tão inesperadamente surpreendente. 
O festival da cerveja que mais vendeu este fim de semana foi uma viagem a um passado recente, o tal passado onde me revejo todos os dias quando começo a tecer o meu plano para ter mais um grande dia.
Não posso festejar em festivais todos os dias, pois assim não saberia apreciar mais a felicidade, ou os tais momentos que ficam na nossa memória ligados ao conceito de felicidade, mas posso de vez em quando lembrar-me que a felicidade existe e que vem de dentro para fora e é nessa comunhão com os outros que ela é perceptível e registada como tal. E quem não a tem ....não a procure! Alimentem-na!
Aos fantásticos amigos da Invicta....um grande bem-haja!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Melancólica Melody

Para quem conhece o percurso da vida pessoal de Melody, não se pode ficar alheio a uma tristeza latente que ela transparece em palco, uma nostalgia que tanto tem de belo como até de sensual.

Melody entrou em palco vestida como a personagem principal do livro de Henry James : " O retrato de uma senhora", onde a elegância do porte do século do romantismo quase esconde toda a sensualidade imanente aos gestos e voz desta Americana residente em Paris.

A iluminação do palco do CCB sugeria um bar de Jazz underground de N.Y. onde intimismo era o ambiente espontâneamente reinante ; e como Melody gosta de falar de temas íntimos, tudo fazia sentido naquela performance tão suberbamente melancólica, sensual e intimista.

A uma das suas várias e originais intervenções com o público tímido do CCB , ninguém conseguiu responder-lhe sobre a loucura do amor...e aí a sua experiência de vida entrou no palco e ouvi -mo-la deleitados com a sua calma e maturidade no saber estar em palco.
É uma experiência agradável , a de poder partilhar histórias pessoais como base para uma comunicação cúmplice e que com certeza eternalizará esta Melody nos nossos corações.

Não posso esquecer de falar da qualidade erudita dos músicos que a acompanham, especialmente o violoncelista e o contra-baixo que fizeram prestações fabulosas e originais.
São estas noites de boa musica que vão preenchendo vazios a muitas almas e libertando outras.
A repetir...em Paris.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

                          O dia não poderia ter começado melhor com a noticia do nascimento da Maria, no Porto. Recebi logo uma foto de uma menina como tantas outras de olhos rasgados por não os conseguir ainda abrir.
Anunciavam-se temperaturas altas e sem hesitações rumei em direcção ao Meco com uma amiga.

Ainda hoje não percebo as pessoas que dizem que gostam de fazer férias de praia noutras estâncias balneares, fora de Portugal.
No Meco, não só há espaço e areal para percorrer, mas também bons restaurantes com peixe do mais fresco e outras iguarias do mar. Finalmente, gente descontraída!

Os pássaros relembram-nos que nas falésias existe uma flora aromática e autóctone da costa Vicentina e o rebentar das ondas abafam qualquer som supérfluo ao imaginário de praia perfeita.
No final do dia , após várias tentativas frustradas para deixarmos aquele aroma a felicidade, decidimos que realmente aquela actividade física no mar abre o apetite e lá fomos á padaria de forno a lenha em Alfarim, onde tudo é uma tentação: a lúcia-lima colhida no quintal para fazer o chá das 5pm , o bolo de mel e erva doce para acompanhar e ainda o pão quente para levar. São os Segredos da Terra. 
E esta terra é assim...com os seus segredos nativos e para amantes da descoberta sem Gps nem roteiros turísticos. Tudo é autêntico, nada cheira a necessidade de afirmação.
E até mesmo o Amo-te Meco que está num lugar estratégicamente de olho posto no mar e nos roteirosde bar, está adequado a noites descontraídas, estreladas e evasivas com seus recantos de completa descontracção e intimismo , onde o som é escolhido meticulosamente por profissionais do belo e do sensual.

Mas , Mozart numa noite de verão era mesmo em Lisboa e numa praça apinhada de gente e onde nem uma brisa tinha espaço para passar, ficaram as notas não tão más quanto as pintam, da orquestra Metropolitana de Lisboa , a fraca prestação dos jovens soprano e tenor e a dignidade da réplica da ópera de Milão na praça de S.Carlos.
Quem não quer saber que há isto tudo á nossa volta.....? 

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O colecionador de grãos

Hoje quando enviei uma mensagem aos meus contactos virtuais com que normalmente abro a semana, tive uma resposta querida, pertinente e um pouco naive....pela parte de uma amiga, arquitecta paisagistica ,  com uma consciência muito ecológica e solidária para com o mundo e o Universo.

Tratava-se de uma simples petição de assinaturas suficientes para tentar o concelho de ministros na E.U. a repensar no assunto da aceitação da produção e comercialização de culturas OGM  na Europa Comunitária.

Ora, a Sandra não se opõe á produção de OGMS visto estas culturas serem produzidas em grande quantidade e a preços mais acessíveis, sendo assim possível a sua introdução em mercados carentes de produtos alimentares de base como todo o continente Africano.
E se esta fosse a finalidade da promulgação desta lei, eu seria uma dessas pessoas a regozijarem-se com tal tomada de consciência de solidariedade para com os mais desafortunados; mas não me parece ser esse o objectivo dessa introdução regrada e legislada no nosso mercado Europeu.

Recentemente tive a sorte de ter assistido por mero acaso a um documentário da National Geographic que se intitulava : " The grain seeker" e que contava com muita destreza jornalistica o percurso e o objectivo de um biólogo Australiano que se deslocou ao Médio-Oriente para angariar sementes de trigo e de grão de bico que já não existiam em nenhuma parte do mundo e que para além das suas genéticas terem milhares de anos também continham genes resistentes a vários vírus e doenças a que sementes mais comuns/vulgares já não conseguem resistir.

Aprendi a dar o valor ao trabalho deste biólogo e á importância do assunto, mas também interessante foi ainda o factor surpresa ao constatar que na Austrália existe um departamento de biologia que guarda em estufa estas mesmas sementes que salvarão , um dia, o problema da erradicação das sementes OGM por estas serem mais sensíveis a epidemias.

Afinal parece-me que não se quer comprar destas sementes aos agricultores tradicionais do Médio-Oriente por serem económica/financeiramente pouco interessantes.

Por algum devaneio são, pensariam produzir OGMS na Europa para alimentar África?

Não será mais uma estratégia para acabar com a dependência económica que temos para com os U.S.A? Ou mesmo baixar os custos de produção e aumentar a rentabilidade dos produtos?

Tudo bem! Não me venham é com demagogias solidárias.

Enquanto me lembrar do que sofri fisicamente enquanto vivi em Londres , por me estar a alimentar com excesso de hidratos de carbono de origem Americana ( os ditos OGMS) terei de continuar a comprar produtos de origem biológica, pois afinal um sistema imunológico deficitário pode levar a muitas maleitas indesejáveis.

A qualidade de vida na sua base (saúde) tem o preço que as empresas e os Estados querem dar e somos nós que temos de escolher o preço a pagar.

Afinal a saúde também tem um preço elevado por estas bandas....não é só no mundo novo.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Virtualisando o espaço

Quis estar nas escarpas olhando o mar onde te irias banhar;
Quis abraçar-te quando de lá saíste sabendo a sal e a victória e esquecer-me
que lá não podia estar;
Quis trazer-te para casa e aí sossegar contigo a meu lado e fingir
que podias ficar;
Quis gritar que ainda estou aqui , mas emudeci ;
E engulo a tua felicidade não partilhada
E tento malabarismos para a transformar em alegria.
E da alegria não consigo falar...

E com o tempo que passa ao passo do tempo
Esvai-se a cor da imagem que retive de ti
Cresce o desejo que se amordaça em negações intermitentes.
Fica a sépia, o calor dos teus beijos.

Tudo cresce e as dimensões perderam o espaço a que tinha confinado os nossos corpos....
E como explicar-te todo este espaço vazio á minha volta sem te perder?

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Tão longe de estares perto....

 
Faz um ano que me pediste para segurar a tua mão.
E dei-te todo o espaço que tinha no meu coração.
 Hoje, senti que não há espaço nem possibilidade de entrar, eu, no teu.
Vou dar-te todo espaço fisico que não te quero dar - mas que posso - na esperança de um dia me pedires para entrar eu no teu.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Feliz dia para ti!

Percorro o teu corpo com o meu olhar posto nas nuvens.
O movimento cegamente branco das irregulares formas condensadas inundem-me o coração de calor
de tanto te desejar perto de mim.

O algodão imaginado no céu roça a minha pele;
do teu toque fica a sensação a angorá; e
dispo-me no  desejo etéreo de substituir as matérias.
Fico nua após a constatação dos efémeros beijos e
da tua curta passagem por mim,
fica sempre o sabor do amor em tempos de solidão;
acalentado por este feixe de lanternim
serpenteando o tunel que de longo não tem fim.

Não há logro. Não há dor.
Uma restia de esperança de um dia
percorrendo o teu olhar na mesma direcção...a que lhe queiras dar,
onde o tempo não irá mais contar.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Romance em Fraser Island


7h20 am e John, o guia da natureza ja estava `a porta do hotel para me levar para mais um dia de aventuras. Cada dia diferente e melhor, s`o e mais exposta a conhecer novas gentes; e que consolo!

Eramos um grupo internacionalmente sui generes: um casal de russos de ar pesaroso e descontente pelo intenso calor; um casal de irlandeses que conheciam Portugal= Albufeira; 3 surfistas franceses ,estudantes na Suica que me questionavam constantemente pelos timmings dados pelo guia; e japonesas que tremiam de medo assim que as gigantes moscas autoctones da ilha Fraser se aproximavam delas.

John garantiu-me o lugar ao lado dele por ter-me considerado colega de profissao. Nem eu sabia o que esperar de um guia de natureza numa ilha remota....
Fraser Island tem tudo o que se quer ver numa ilha, menos, est`a claro, os ex-autoctones...aborigenes.

A passagem para a ilha `e feita de ferry onde vao todos os jipes, pois nao `e permitido outro genero de veiculos devido ao solo arenoso e sujeito a criar dunas pela falta de chuva.
No entanto, existe uma floresta tropical, densa como so imaginamos numa Amazonia: eucaliptos de varios tipos, sanitays ( especie de tronco robusto como o sobreiro,mas nao tao leve) utilizado para a industria naval, construcao do canal Suez e as docas de Londres: assim como todas as outras arvores ali plantadas desde o sec.19 com a finalidade da sua comercializacao. Desde entao, varias outras especies se adaptaram trazidas por ventos, outras fungos consequentes da humidade criada por este novo habitat. O resultado `e exuberante.
Toda a fauna parece sinergeticamente envolvida com a floresta e decidida a prestar ao mundo mais um lugar idilico para consolar a alma. Ate cobras-pitons verdes e amarelas relembram-nos as cores da Australia - no mundo do desporto - e aparecem quando menos se espera.

Uma ilha que parece tao naturalmente selvagem foi, afinal pensada e preparada para ser rentavel ao continente e alem-mar.
O exotico da viagem `e sem margem de duvida, entrar na auto-estrada da ilha que `e tao somente o areal vasto `a beira-mar a perder-se de vista...enquanto a mar`e est`a vazia. A sinaletica ajuda os condutores a manterem os limites de velocidade e a partilharem a mesma via com as avionetas enquanto que os turistas procuram avidamente um dingo a passear como se anunciam nos folhetos turisticos; e l`a est`a um que se aproxima do mar e todos se aproximam ao lado direito do carro para eternalizarem o evento. Afinal s`o aqui `e que existem estes caes selvagens e magrerrimos por ninguem lhes poder dar de comer.

Eli creek `e a ribeira que nos oferece a 1a chance de nos banharmos. `Agua doce que tem o seu termino no oceano,assim como as centenas de outras ribeiras que vagueiam sem barulho por leitos de areia de graos de quartz, branca , limpida e criando uma flora verdejante unica que s`o cresce em agua purissima. Um regalo de ver e de usufruir.

Passo a parte do almoco que nao tem impacto nenhum neste dia, mas tambem nao `e pela cozinha Australiana que me desloco.

Desde pequena que sonhava em um dia poder visitar o lago Makenzie por ter uma forma de coracao enorme e ...j`a me parecia uma boa razao.
As imagens que vemos em livros de fotos tiradas do ar para evidenciar a sua forma nao sao fieis `a beleza que realmente nos `e presenteada assim que l`a chegamos. `E necessario um afastamento emocional da projeccao idilica de cada um para nao verter uma lagrima de contentamento no momento da descoberta.

Foi no barco de regresso que senti que poderia comecar a chorar de felicidade por ter visto tanta beleza num s`o dia e esse dia ter que terminar sem saber se alguma vez terei um dia tao romantico quanto este. Nao fosse o termo "romance" ter sido completamente adulterado pelos escritores j`a no final do sec.19 - quando os seus instinctos amorosos eram enaltecidos pelo bem-estar desse amago sensorial vivido pela apreensao da natureza - poderia dizer que este foi o dia mais romantico que algum dia tive, sozinha.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Dia da Australia

Amanha celebra-se o dia nacional da Astralia e curiosamente ninguem me sabe dizer porque nesta data.
Ja se comecam a fazer convites para megas-churrascos organizados em parques, casas privadas, cafes, restaurantes e ate nas praias.

Decidi ir fazer snorkeling nesse dia tao especialmente dedicado `a ebriedade socialmente aceite.
Vendem-se as ultimas t-shirts, bandeiras e chapeus com a bandeira nacional e os grandes festejos vao ser em Sydney com fogo de artificio no porto, mas outras cidades tambem terao eventos para celebrar um dia de feriado como este.

Como estou h`a 2 dias enfiada no hotel bem simpatico e exuberante em flora e sapos e com o programa de mergulho em stand-by, vou regalando-me com os jogos do open da Australia onde os melhores jogadores mostram o pesar que este calor humido tem.

E, amanha, finalmente o fim deste impasse causado pelo Olga.
Nao havera churrasco para mim, mas espero poder ver a familia do Nemo.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Magalhaes , sempre!


Os Domingos sao dados a algumas expressoes de intimidade familiar ou ainda a alguma introspeccao, pelo menos, para mim e alheadamente `a minha situacao geografica.
Nesta etapa da minha viagem na parte Este da Australia, j`a fizemos para alem dos 2500Km de estrada,alguns dias sem parar, ou parando s`o para por mais gasolina.
Na 1a fase fizemos logo cerca de 1400Km para N e em 2 dias, serpenteando campos vastos de cana de acucar e plantacoes de manga, as melhores que j`a comi.

O verde nao me deixa de surpreender pela quantidade e persistencia ao longo de tanta estrada. De vez em quando,aparece um canguru ou ratazana mursipal ,mortos ao longo da estrada. Existe uma teoria em que se defende que os cangurus se sucidam atirando-se para frente dos automoveis....eu prefiro acreditar que sao curiosos e que querem saltar para se divertirem com a velocidade dos passantes.

Na tarde do segundo dia de viagem comecou a chover torrencialmente,pois o ciclone anunciado exactamente para onde nos dirigiamos, j`a estava a provocar mau tempo.
A nossa missao era chegar a Etty Bay - uma pequena praia paradisiaca, onde s`o alguns tem o privilegio de ter uma casa em madeira, logo ,ambientalmente correcta. A`i, seria o nosso poiso por alguns dias para podermos mergulhar no grande recife Australiano - estamos a falar de 2000Km de recife de corais -disperso por ilhas paradisiacas a perder de vista.

Os planos iniciais nao foram bem explicitos e afinal,nem estavamos perto de um porto para visitar os corais, nem a casinha era tao acolhedora quanto parecia, pois estava j`a h`a algum tempo desabitada.
A noite foi praticamente em claro, pois entre a chuva torrencial, ventos ciclonicos e calor humido...e de manha para decepcao do Ian, anunciei-lhe que nao ficaria mais um dia ali.
Sem poder mergulhar , nadar ( `e a epoca dos peixes que picam e s`o se pode nadar com fatos de mergulho) ou passear, a viagem tinha chegado ao seu termino.

Voltamos para Sul, novamente, mas desta vez, segundo os planos de uma guia profissional que estava a tentar nao se impor nos planos de viagem de um autoctone.
Amigas colegas, sabem o quanto custa nao impor a nossa estrategia quando se fazem projectos de viagem....
E agora estamos j`a em Airlie Beach em frente `as ilhas Whitsundays, designadas como as mais belas de todo recife (`aguas transparentes, areia branca e vegetacao exuberante) e onde vim a descobrir por terceiros que sao realmente as ilhas a visitar.

Visto o mau tempo ter descido para sul, hoje nao pude partir de catamaran para mergulhar, mas amanha l`a estarei `a mesma hora.
Est`a dificil!!!
Ainda bem que nao desisto de levar comigo guias turisticos....livros!
Perseverancia e fe sao os meus pilares nesta viagem, ou afinal, nao tenho genes de navegadora ?

sábado, 16 de janeiro de 2010

Um dia em Mount Tamborine

O Sabado foi combinado com alguma antecedencia, pois queriamos visitar caves de vinho com um bom grupo de amigos ;e assim foi.

Apanhamos uns amigos pelo caminho e seguimos direccao a Mount Tamborine, onde se encontram dezenas ,se nao, centenas de caves que mais parecem challets coloniais e onde a variedade das castas se cinge ao Shiraz, Cabernet Sauvignon e Merlot e nao esquecendo `e claro para os brancos, o famoso Chardonay.

Visitamos as 3 que nos eram recomendadas : Nathan, onde comprei um licor de mel com mirtillos; Heritage onde a prova foi feita de p`e e `a pressa e quando chegamos `a AU, j`a estavam praticamente a fechar, mas foi de longe a que nos ofereceu um vinho de boa qualidade. Para quem gosta de vinhos fortes em taninos, estao no pais certo.
Para quem quiser ficar pelos portos, tamb`em os h`a. Desde o ruby, tawny, brandy e scotch , todas estas designacoes de porto, por lei, nao sao permitidas , mas `e a unica maneira que tem de apresentar esta gama de vinhos.

Almocamos todos num clima de festa familiar num forum recentemente construido onde se reunem varias industrias alimentares para degustacao. As que nos apelaram foram a dos queijos e a da cerveja.
Local absolutamente pensado para reunioes familiares e sociais em dias de lazer e onde a gula pode ser levada a serio.
A variedade de queijos `e extraordin`aria e de boa qualidade e quanto `as cervejas....vivam as belgas !
Nao deixa de ser um local aprazivel , pacato e com um cenario estonteantemente verde.

A tarde j`a avancava e antes que a sonolencia atacasse pelo calor que se sentia fomos visitar o Warren que tem uma casa de campo em Tamborine e onde para al`em do seu exuberante espaco exterior, ainda tem terra classificada de parque nacional.
Blue dragons, lorricanes (esp`ecie de papagaio autoctone ), araras, jacarand`as, sequoias,eucaliptos de v`arios tipos, bambus, acacias, camelias, araucarias, bananeiras, palmeiras, e tantas outras mais que poderiam fazer com que caisse no exagero, mas , nao. `E muito mais que isto. `E muito mais do que a minha vista alcanca. `E indiscritivelmente exuberante!

A familia do Warren estava toda reunida na parte plana do relvado. As criancas brincavam , os adultos beberricavam vinho enquanto trocavam piadas e n`os eramos levados num tour guiado pelo propriet`ario que com um orgulho assertivo mostrava as suas esp`ecies botanicas ameacadas pela lantana.....e quase que nao acreditou quando lhe disse, ironicamente que em Portugal compra-se lantana para decorar os jardins.

Foi depois de ter testemunhado a beleza de uma minima floresta tropical que faz parte da sua quinta onde o riacho nos convida a mergulhar os pes, nao fosse a proximidade de cobras, que me dei conta que estava praticamente rendida a querer mudar de vida e de pa`is.

As `arvores gigantes que mal deixam passar a luz e que dao oportunidade aos fetos de se expandirem, o som dos p`assaros ex`oticos que ecoam por entre as copas das `arvores e atraves dos bambus; o jogo de futebol praticado entre n`os e onde todos jogavam ,desde petizes a graudos e cada um com seu pa`is como bandeira, pois , afinal, a Australia `e o mundo novo.

A terra dita das "oportunidades" pode ser crida no continente Americano ,mas aqui tamb`em existem essas, mas muito mais. H`a qualidade de vida, bem-estar geral e ainda nao vi sinal de mis`eria. Ainda bem que nao h`a muitos que o saibam.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Ritualizando....

Main Beach, 04h30 e o sol ja tinha nascido quando acordei.
Nao sofri do dito jet lag, pois o dia aqui comeca para todos quando o sol nasce.
`As 5h30 tomavamos o pequeno almoco com fruta deliciosa que cresce nos jardins e `as 6h00 ja estavamos na praia para surfar.

Os amigos e vizinhos encontram-se no parque de estacionamento ou vao juntos no mesmo carro e vive-se numa tal confianca que alguns objecto surplefluos `as actividades praticadas deixam-se junto ao carro e com certeza que ai estarao no regresso.
Como ainda estou lesionada no braco comeco a correr ao longo do passeio maritimo que acompanha sempre a praia quase deserta por ter uma extencao a perder de vista. O calor que ja se faz sentir, pois o sol ja vai alto, `e cortado pelas enormes copas das arvores ao longo da via pedonal.

Aqui existe um ritual comum a toda a Australia visivel na pratica desportiva que mesmo variada , une esta sociedade fazendo da amizade e boa vizinhanca ,o hino nacional.
Pratica-se a amizade e a partilha atraves do desporto. Um ritual saudavel, cumplice e reconfortante.

No mar, os surfistas falam enquanto esperam pelas ondas; no passei maritimo, joggers ou caminhantes passam a dois ou cruzam-se cumprimentando outros; e os bikers competem em equipas de 4,6,10,20 e no fim juntam-se nas esplanadas para beberem um caf`e antes de voltarem a casa para se vestirem para o trabalho.

Parece-me que `a parte do Botao, esta poderia ser a sociedade onde a percentagem felicidade sera maior e visivelmente testemunhada.

Vai ser dificil surpreenderem-me mais....

Fado da partida

Um dia vou-me rir a contar o dia da minha partida para a Australia onde ficaria um mes a desfrutar de paisagens unicas em `optima companhia.

No aeroporto agarrei-me `a minha aminga Manu e um n`o na garganta melancolizou o momento.Deixava uma situacao mal resolvida e viajava sem o querer, mas por precisar de me ausentar.

A viagem ate Paris foi rapida como normalmente e muito reconfortante com um hospedeiro a mimar-me com atencoes, desde uma almofada ate a um segundo servico de cha. O vermelho dos meus olhos aumentara devido a pressao do ar e deveria ser perceptivel essa tristeza numa cor tao quente.

Em Paris fazia -5C, mas nao tao frio como Lisboa. " As vezes tenho mais frio no meu quarto vazio", soava-me a algo familiar, talvez a uma musica dos Xutos.

Sai para fumar um dos meus ultimos cigarros e fui bombardeada com a mafia dos taxistas parisienses que no seu ar rufia, intimidavam qualquer cliente. Um sem-abrigo retirava com o dedo indicador as nats de um pacote ja quase vazio. A gordura ingerida a frio para aquecer a alma.

Mudei de terminal e de cenario. Nas partidas de viagens de longo curso tudo o que `e loja , brilha numa tentativa de se aproximar aos neos Orientais . Os cafes estao abertos e compro uma agua e ua revista de psicologia onde um dos artigos me chama a atencao.
Na sala de embarque ja se veem muitos orientais e australianos. Irremediavelmentereconheciveis, uns pela fisionomia, outros pelo estilo tao descontraido e indumentaria ligada ao mundo dos desportos e aventura.

O melhor aeroporto de sempre- Singapura!
O lounge para fumadores e exactamente um terraco exuberantemente decorado com plantas exoticas desde palmeiras , bananeira e jacarandas e um bar no meio desta selva reservada a viajantes. Ar puro!

Quanto a chegada a Brisbane....inesquecivel pela luminosidade, calor e extencao de territorio.
O Ian ja me esperava ha algu m tempo sem saber que a minha mala tinha sido destruida e aconchegada com cintos da companhia aerea Qantas, talvez a melhor companhia com que ja voei.
E agora, o mundo novo tao desejado vai ser com muita certeza e vontade, bem explorado.
Amanha , fialmente as estorias das 1as imagens que nao poderiam ser melhores.