quarta-feira, 28 de julho de 2010

Paris - Convento do Espinheiro 2010

Mais uma escapadela na cidade das luzes que  me é tão querida!
Assim , como em Lisboa, a cidade respira a cadência temporal dos humanos, porque é Julho. 
O ar é mais puro e até as borboletas se despem da sua timidez  bucólica.

Desta vez, com o meu guia privado, calcorreei Paris pelos bairros não tão correctamente turísticos e aí senti o que sinto ao atravessar a praça de Martim Moniz até ao Palácio da Independência.
Os paramentos multi-colores, os odores, a polifonia das línguas, as multidões da Diáspora, tudo o que Paris esconde  nos livros turísticos e que fazem estes percursos serem tão autênticos quanto os pseudo- intelectuais Parisienses saboreando o jornal no " 2 Magots".

 Vincent, prefere sobrevoar Paris em helicóptero...a minha irreverência leva-me a convencê-lo, diplomaticamente, a perder mo-nos pelos bairros onde as ruas não têm nome; e vou contando-lhe as minhas histórias Parisienses enquanto se esquece que estamos a andar há horas.

 E quem fala da noite, senão um poeta que abraça as trevas, o secretismo de uma lua em todas as suas fases? 
O meu silêncio é audível , assim como a falta de um trovador para cantar um amigo....


Bandas de jazz de rua, folk dos E.U.A em peregrinação, tudo ambiciona quebrar o silêncio de poetas que cantem as pontes de Paris.

 Tirei uma foto à Pont neuf para não deixar de recordar  Juliette Binoche.
E assim , vou guardando imagens e episódios  que só poderiam ser memorizados pelo viajante e não pelo turista.
Bastaram-me 7 fotos para crer que Paris nunca muda na sua permanente capacidade de surpreender....outra vez. 
E quem ama assim Paris, ou está apaixonado ou retirado num convento a escrever sobre Paris .
Obrigada, Vincent, por te renderes aos prazeres de andar sem rumo. 

terça-feira, 20 de julho de 2010

Amo-te, Meco!

O que sabe muito bem quando se parte de mochila ás costas para 3 dias de festival de música é realmente o sentimento de evasão e de abandono momentâneo da sedentariedade inerente á rotina quotidiana.
O facto de saber que tudo pode acontecer e que nada foi pensado a nível de logística de estadia ou de horários, é por si só libertador.

O programa para os 3 dias era óptimo e o facto de haver sempre a tenda de música electrónica com bons D.J's fazia a nossa estadia bem mais extensa. 
Dos vários artistas que por lá passaram não vou falar,pois todas as actuações foram boas e o espaço onde tudo foi organizado, em pleno Meco, não poderia ter ficado mais perto do coração.
A grande surpresa do programa foi um Laurent Garnier com a sua postura "d'enfant terrible" na festa que se passava na tenda electrónica. 
 Já o tinha visto havia mais de uma década, mas não tão terrivelmente em forma e rodeado de músicos de um nível tão excelente ; um saxofonista e um teclista com grande poder de improvisação.
Ok, uma referência- quand même- ao Prince : super profissional! Fez o que era esperado, um grande concerto onde a Ana Moura também deu a sua nota especial.
E já posso guardar a sensação de experimentar a chuva púrpura que encerrou a sua actuação. Efeito borboleta!!

Entre festival, praia e Bar do peixe, o humor não poderia ser melhor , afinal o que há de melhor para todas as situações (más ou boas) senão bons amigos? Pois a companhia foi o melhor de todo este percurso de volta á adolescência ou fase jovem adulta.
 
De facto, uma praia tão bonita com poucos banhistas; a água do mar que estava a uma temperatura bem mais simpática do que normalmente e um bar que tem excelente pessoal descontraído a servir ás mesas e clientes tão divertidos e sociáveis....que mais se poderá querer senão juntar mo-nos todos e aplaudirmos o pôr de sol desde que este toca o horizonte até ao seu desaparecimento ? 
É o espectáculo da vida, ali no Meco. E é partilhado por todos nós.


A vida pode ser o maior espectáculo quando temos amigas que entram em carros alheios pensando que estão no nosso...; quando afirmamos que estamos cansados de ser felizes de tanto rir...; quando encontramos gentes insaciáveis que se aprontam para rir em grupo...; quando existem ao nosso lado pessoas que sabem e gostam de partilhar o que há de bom na vida...tão inesperadamente surpreendente. 
O festival da cerveja que mais vendeu este fim de semana foi uma viagem a um passado recente, o tal passado onde me revejo todos os dias quando começo a tecer o meu plano para ter mais um grande dia.
Não posso festejar em festivais todos os dias, pois assim não saberia apreciar mais a felicidade, ou os tais momentos que ficam na nossa memória ligados ao conceito de felicidade, mas posso de vez em quando lembrar-me que a felicidade existe e que vem de dentro para fora e é nessa comunhão com os outros que ela é perceptível e registada como tal. E quem não a tem ....não a procure! Alimentem-na!
Aos fantásticos amigos da Invicta....um grande bem-haja!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Melancólica Melody

Para quem conhece o percurso da vida pessoal de Melody, não se pode ficar alheio a uma tristeza latente que ela transparece em palco, uma nostalgia que tanto tem de belo como até de sensual.

Melody entrou em palco vestida como a personagem principal do livro de Henry James : " O retrato de uma senhora", onde a elegância do porte do século do romantismo quase esconde toda a sensualidade imanente aos gestos e voz desta Americana residente em Paris.

A iluminação do palco do CCB sugeria um bar de Jazz underground de N.Y. onde intimismo era o ambiente espontâneamente reinante ; e como Melody gosta de falar de temas íntimos, tudo fazia sentido naquela performance tão suberbamente melancólica, sensual e intimista.

A uma das suas várias e originais intervenções com o público tímido do CCB , ninguém conseguiu responder-lhe sobre a loucura do amor...e aí a sua experiência de vida entrou no palco e ouvi -mo-la deleitados com a sua calma e maturidade no saber estar em palco.
É uma experiência agradável , a de poder partilhar histórias pessoais como base para uma comunicação cúmplice e que com certeza eternalizará esta Melody nos nossos corações.

Não posso esquecer de falar da qualidade erudita dos músicos que a acompanham, especialmente o violoncelista e o contra-baixo que fizeram prestações fabulosas e originais.
São estas noites de boa musica que vão preenchendo vazios a muitas almas e libertando outras.
A repetir...em Paris.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

                          O dia não poderia ter começado melhor com a noticia do nascimento da Maria, no Porto. Recebi logo uma foto de uma menina como tantas outras de olhos rasgados por não os conseguir ainda abrir.
Anunciavam-se temperaturas altas e sem hesitações rumei em direcção ao Meco com uma amiga.

Ainda hoje não percebo as pessoas que dizem que gostam de fazer férias de praia noutras estâncias balneares, fora de Portugal.
No Meco, não só há espaço e areal para percorrer, mas também bons restaurantes com peixe do mais fresco e outras iguarias do mar. Finalmente, gente descontraída!

Os pássaros relembram-nos que nas falésias existe uma flora aromática e autóctone da costa Vicentina e o rebentar das ondas abafam qualquer som supérfluo ao imaginário de praia perfeita.
No final do dia , após várias tentativas frustradas para deixarmos aquele aroma a felicidade, decidimos que realmente aquela actividade física no mar abre o apetite e lá fomos á padaria de forno a lenha em Alfarim, onde tudo é uma tentação: a lúcia-lima colhida no quintal para fazer o chá das 5pm , o bolo de mel e erva doce para acompanhar e ainda o pão quente para levar. São os Segredos da Terra. 
E esta terra é assim...com os seus segredos nativos e para amantes da descoberta sem Gps nem roteiros turísticos. Tudo é autêntico, nada cheira a necessidade de afirmação.
E até mesmo o Amo-te Meco que está num lugar estratégicamente de olho posto no mar e nos roteirosde bar, está adequado a noites descontraídas, estreladas e evasivas com seus recantos de completa descontracção e intimismo , onde o som é escolhido meticulosamente por profissionais do belo e do sensual.

Mas , Mozart numa noite de verão era mesmo em Lisboa e numa praça apinhada de gente e onde nem uma brisa tinha espaço para passar, ficaram as notas não tão más quanto as pintam, da orquestra Metropolitana de Lisboa , a fraca prestação dos jovens soprano e tenor e a dignidade da réplica da ópera de Milão na praça de S.Carlos.
Quem não quer saber que há isto tudo á nossa volta.....?