terça-feira, 17 de agosto de 2010

Contemplando com tempo no templo

Aproveito o tempo livre que tenho nos santuários que fazem parte do programa para fazer o meu retiro espiritual , não sem deixar de praticar um voyeurismo que me remete para a certeza de querer continuar a conservar o meu gnosticismo.

Os templos são espaços criados por gente sábia, sensível ao físico e ao espiritual e como consequência as obras resultantes destes estudos megalómanos como catedrais, Basílicas e Mesquitas, impuseram-se por todo mundo pela necessidade imperialista de controle de poder,de manipulação e de segregação social- por contraste aos templos de origem oriental onde se criaram templos para fortalecer o individuo como ser espiritual.

A história de Fátima, assim como a de outros santuários no mundo onde se recorra á penalização do corpo para elevação do espírito ou factura pro-forma de graças concedidas por Deus, são - na minha convicção - espaços que valem pela sua conceptualização de volumetria, geometria e projecção espacial, a mesma que na Renascença levou artistas Florentinos a ousarem a projecção dessa espiritualidade necessária ao alimento da alma.

Ora, aqui nesta nova Basílica de Fátima , onde o minimalismo decorativo e arquitectural nos remete para o abandono material e nos faz sentir á escala humana, o Cristo no altar-mor é por excepção a única presença que me leva a crer que existe alguma seriedade, afinal, nestas habitações de Deus.
Aqui, Cristo é fisicamente representado como autóctone do Médio -Oriente; as suas barbas aparadas esteticamente como na família de David dão-lhe a graça judia; e o seu tronco magro e frágil em relação aos membros inferiores fazem jus ás cenas contadas nesse romance bíblico onde Jesus passa todo tempo a calcorrear grandes distâncias.
Enfim, sinto-me em paz nesta criação religiosa que me apraz no espaço que escolho para recolhimento, mais uma vez, na tentativa, não de encontrar Deus, mas de me encontrar na minha paz.
O meu templo temporariamente recolhido noutro templo;
A minha paz de pazes feitas com os meus sentidos anarquizados;
A minha vida revisitada numa síntese docemente ancorada pelo amor.

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