segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Sarando...sem querer

Tenho uma tristeza latente
que me decompõe a alma que abraço com tanto trupor.
Tenho memórias de mim como queria ser, 
como pensava que conseguiria amar sem amarras.
Afinal,   sem ter mestria nas emoções e
como num acidente do qual permaneço refém ,
lambo as feridas que tento sarar;
e a cada gota de sangue vejo o teu rosto, ainda....
que me dá náuseas e vontade de te agarrar.
Contradições , maldições e tantas outras confusões
que seriam simplesmente um vento do norte,
não fosses, estar tu, tão próximo e tão longe...


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Era uma vez o Ocidente....

Algo que tenho que partilhar convosco e sendo hoje, uma sexta-feira, 13...vamos poupar mais umas cabeças !
Traduzi do francês, um artigo do jornal alemão Stern de Hamburgo que achei curioso, vindo de quem vem..... :

" Há  cinco anos atrás o mundo parecia ser ainda o que julgavamos ser. Na cimeira dos G8 (organizada pela Alemanha em Junho 2007 nas margens  do mar Baltico) em Heiligendamm, os chefes do Estado americano , japonês , alemão , francês , britânico, italiano , canadiano e russo reuniam-se para se concertar a ordem do mundo. Mostravam-se em sofás de vime, emitiam um comunicado e prometiam fundos a Àfrica. Uma legião de jornalistas, de manifestantes e de policias rodopiavam á volta destes. Nada deixava parecer que esta cimeira assinava o fim de uma época.
 No Outono do ano seguinte, o desmoronamento da banca Lehman Brothers marcava o inicio da crise financeira que dissipou milhares de dolares pelo mundo, mas que sobretudo acelarou prodigiosamente uma tendência já sensivel : o declinio do Ocidente e a subida em peso do resto do mundo. Doravante, desde que os grandes chefes de Estado se concertem, já não são sete ou oito, mas mais de vinte como em Cannes em Novembro de 2011. E já não são as potências europeias e os Estados-Unidos que dão a lição á Àsia ou á América Latina, mas o inverso. A China preocupa-se com a dívida Americana, a presidente brasileira ( Dilma Rousseff) exige da Europa que esta mostre a sua " vontade politica", o governo da banca central indiana (Duvvuri Subbarao) pede-lhe que tome decisões dificeis, e mesmo a Africa do Sul pergunta-lhe mesmo se  não deveria comprar obrigações europeias para apoiar o Velho Continente.


A ascenção da Europa começou no sec. XV, mas é só com a revolução industrial, no incio do sec XX que ela acelarou. Até então os centros do mundo eram noutro lado : por volta do ano mil, os cientistas árabes estavam muito avançados em relação aos do Norte.
A China tem cidades com mais de 1 mlhão de habitantes desde o sec.IX. Há mais de um meio seculo antes de Cristovão Colombo, o almirante Zheng He explorava as costas de Àfrica e da Península Arábica e face á sua frota impunente, as caravelas* do nosso explorador genovês daria ares de  débeis esquivos .


A racionalização do pensamento que caracterizou as Luzes foi determinante para a ascenção da Europa : as gerações futuras não deveriam gozar de uma melhor existência pela graça divina, mas graça ás novas ideias que se tinham imposto. Quando em 1897 , a rainha Victória celebrou o seu jubileu de diamante ( 60º aniversário do seu reinado), ela tinha um quarto da população mundial entre os seus subditos. No sec. XX, os Estados-Unidos tornaram.se a primeira potência do mundo e a hegemonia mundial permaneceu ocidental.
Para nós, esta ordem do mundo é quase uma lei da natureza. É quase  a conclusão da história da humanidade: á estação vertical e á domesticação do fogo, secederam-se o desenvolvimento da escritura, o dominio das forças da natureza, a ruína das ideologias totalitárias. E uma sociedade democrática formou-se ,que certamente sofreu contrariedades, mas que possui um poder de atração que mais nenhum modelo a pode suplantar. No incio dos anos 90, na euforia da victória sobre o campo comunista, o filósofo (americano de origem japonesa) Francis Fukuyama, fantasiava mesmo sobre o " fim da história". Cada filial de McDonalds que abria na China ou na Russia pareciam ser a prova.
E, no entanto, se é uma verdade banal, a história não acaba. A era ocidental chega ao final. Os países "emergentes" contribuem já tanto para a produção mundial como os G7. E vão-nos brevemente suplantar. A China é , na história, o primeiro país a indicar taxas de crescimento tão elevadas durante tantos anos a fio. Em 2027, ou mesmo antes, poderá vir a ser a primeira potência económica mundial.


A ascenção da China representa un desafio ideológico para o ocidente. A noção de " modernidade" já não é automaticamente associada aos valores como a liberdade de opinião. Pequim mostra que o triunfo económico não leva necessariamente a um reforço da democracia. Este modelo inquieta-nos - em África muitos Estados estão seriamente tentados a acertar o passo com os chineses , mais do que continuarem a deixar o Ocidente  dar a sua lição sobre a questão dos direitos do homem.
O que há a dizer para nós , ocidentais?
Nós cremos que a nossa visão do mundo é absoluta , intemporal. Nós consideramos a tolerância, por exemplo, como uma invenção ocidental dos tempos modernos, então que na Época Medieval os muçulmanos que dominavam a península Ibérica autorisavam a liberdade de culto, mais do que os seus vizinhos cristãos. A sombra que fazemos obscurece a nossa visão do futuro. Escutamos as informações internacionais na Deutschlandfunk ( radio publica alemã) ou na BBC e igoramos  que em vastas regiões do mundo os canais Al-Jazira, NDTV (sediada em Nova-Deli) e CCTV ( em Pequim) dão o tom. Cremos que a ordem ocidental é a mais justa - e não nos questionamos se não será preferível que a China, que representa 20% da população mundial,  domine o mundo em vez dos Estados-Unidos.


""É um paradoxo, escreve o historiador Paul Cohen. Os Ocidentais, que mais do que alguém contribuiram na criação do mundo moderno são exactamente os mesmos a não o compreenderem.""


Um dia, acordaremos e apercebere-mo-nos que o mundo se transformou noutro. Até lá podemos ainda manter os olhos fechados algum tempo. Ou podemos nos preparar.
Marc Goergen
* individamente utilizado como embarcação genovesa...talvez na pretenção de dar um valor de supremacia na navegação, normalmente atribuida aos portugueses :-)  

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Com bisturi e au naturel...


Nada como acabar o ano velho e começar o novo ano com aqueles que sabemos que vamos gostar de continuar a partilhar tudo o que nos é mais caro.
Despedi-me do 2011 com uma viagem inesquecível a Paris na companhia querida das Filipas e da Sofia, mas também no meu novo universo emocional que agora está tão ligado a terras francas...mon cher Y.

 E comecei o 2012 com as histórias do Carlos que tanto me atiçaram a vontade de continuar a viajar e a conhecer outros portos e outras gentes.
E dei por mim a filosofar sobre o propósito da passagem do ser humano pela terra que não que para o seu próprio beneficio e também qual a ordem de prioridades a ter quando se quer imperitrivelmente conhecer , amar e produzir.

A minha primeira viagem deste ano foi até á Normandia e a algumas das suas várias cidades e vilas piscatórias que ao avançar dos anos do séc.XX se transformaram em estações balneárias de algum renome e onde uma ou duas famílias , agora, mostram a sua influência através dos casinos aí sediados.

Êtretat e o seu rochedo-agulha que tanto me aproximou de Pessoa á beira-mar ... e poiso de vários impressionistas que aí bebiam o horizonte para depois pintarem a morte das carcaças na praia.


Pequenos portos como Honfleur, onde nos perdemos pela arte que nos chama através de pitorescas galerias projectando o brilho e o calor que falta ao cinza frio de um dia de Inverno;


A arquitectura Normanda que tem tanto de celta como o mar tem de Terra Nova pescada por Normandos;

Deauville, que faz os encantos de veraneantes ,amantes da "belle époque" e os almoços de Domingo em família nos restaurantes da praia em frente ao mercado de crustáceos ... tanta cor e tanta vida por aí passada: O grande hotel, referência para amadores do cinema internacional e o luxo q.b. para quem tem tempo e conforto financeiro para o saborear ,
Marguerite Duras que aí tanto escreveu e amou num apartamento sobre a longa praia do Norte;

E acabando em Rouen, onde o meu coração se entregou á memória de Jeanne d'Arc que ali terá sido queimada, na praça do mercado onde estratégicamente ficámos alojados  para podermos deambular-mo-nos entre o passado e o presente, o sentido mundano da evolução humana e o divino impregnado nas pedras de uma catedral que quis chamar a atenção de Deus.

E tanto ainda para voltar a ver ou a viver um dia mais tarde quando se delinear a rota dos sabores a preservar...

 Já dentro do avião de volta a Lisboa, lia um artigo como muitos últimos que falam da China, mas este numa perspectiva singular e surpreendente de tão arrojada. 

A conjectura sócio-profissional na China tem uma novidade que assegura imediatamente a carreira profissional das mulheres chinesas : a cirurgia plástica.
Desprovida das estatísticas sociais da China , fiquei a saber que neste país onde a procura de uma carreira é o mais importante na vida para uma mulher, o aspecto físico determina o acesso à mesma.
Várias empresas ligadas ao sector terciário e sobretudo financeiro reconfirmam na hora de uma entrevista , o perfil que uma jovem deve adquirir para ter chances de ser admitida para o cargo oferecido, relegando para secundário o desempenho e capacidade das suas futuras funções.

Estas jovens que poupam entre 10.000E a 40.000E para verem as suas carreiras asseguradas, gastam estas modicas quantias nas várias operações cirúrgicas que incluem: rinoplastias, modificação da forma do olhar, estiramento dos ossos das pernas , alongamento do queixo, aumento mamário,etc. Isto tudo para entrarem no mundo do trabalho, depois, logo se vê.
A arte da guerra faz-se, mas agora, de luvas e bisturi.
Onde houve exigência na essência, há agora rigor na forma.
Bem-vindos ao silly/con-valley.
E como viajar não é só moção...contínuo a ler para ver se não perco o fio á meada.