sábado, 5 de setembro de 2009

Reflections of clouds on the water-lilly pound


Sentei-me na sala comum para ouvir as noticias na televisão que me escapavam haviam alguns dias. No terraço á beira-Douro dois hóspedes falavam com a caseira da Quinta num quase perfeito português foneticamente brasileiro. O sino anunciava a abertura do lagar aos convidados a pisar as primeiras uvas para mais tarde rotular-se o vinho de : Porto.
Sentada a terminar um livro que trouxera religiosamente de Lisboa, ouvia a musica que começava a tocar para ajudar na festa da vindima. Uma atrás da outra soavam a Roberto Leal ou algo de semelhante e ao som deste ritmo aparecia em calções o casal, afinal, de alemães que mais tarde soube, não falhavam as vindimas do Douro haviam cinco anos. Estive tentada a descer também, mas a lua cheia foi mais tentadora e ali fiquei a escrever sob a sua luz.
Timidamente a festa iniciava-se com mais autores cantando o retorno da imigração.

Sempre quis participar nas vindimas, mas desde cedo opinei na ideia que sendo um ritual de fertilidade teria que estoicamente partilhá-lo com alguém hormonalmente compatível.
O vinho é realmente um ser vivo parido por todos os que nele deixam um pouco do seu toque, do seu sabor, do seu saber. E como para tal é necessário uma leveza e uma participação emocional.....
Desta vez não bebo ao Douro, não bebo o Douro e não bebo!

Olhei fixamente a minha companheira distante e complacente que nada me esclareceu da vida nem da morte.
Continuo a olhá-la com desconfiança pelo mau trato do único desejo que lhe confiei e do qual não avisto rasto.
Procurar dentro de mim, não posso. O vazio é visivelmente volátil ao engano.
E nesse engano continuo a embrulhar-me nos braços de um outro vazio que de afecto infecta os meus lábios e de desprezo, ataca a minha liberdade.
O silêncio dos inocentes é o oxigénio do lobo.