domingo, 15 de agosto de 2010

Interlúdio em crescente

É com alguma certeza de absoluto descanso que parto para St.André onde encontro não só em casa como naquela praia extensivamente deserta os meus momentos de abandono total.
Não existem horas, ou se existem , não se mostram em nenhum relógio.
As manhãs acordam-me sorrateiramente pelo jardim adentro e como não tenho aviões a passarem constantemente naquele céu tão limpo, julgo-me perdida.
O pequeno-almoço toma-se sem avisar, vai-se preparando-o e logo acordam os restantes membros da família que se juntam nestes despertares tão suaves.
Nunca se fazem planos, ouvem-se os desejos momentãneos do estar e acatam-se vontades de ser simplesmente um veraneante num dia quente com cheiro a estepe e a rosmaninho. O "lá longe" surge através do som do mar que se envolve na brisa para nos indicar o oeste. E caminhamos pelas dunas infindáveis quando o calor já aperta. Por entre pinheiros, armérias e cactos suculentos há sempre o indicio de um mar entre o verde e o azul. As conchas esperam ser apanhadas para adormecerem novos bebés em forma de play-mobile e as pequenas ondas deste mês tentam-nos na sua inesperada doçura.
Há tempo para tudo. 
Há tempo para olhar e reter a paisagem quando se fecham os olhos.
Há tempo para cheirar a maresia e armazená-la como memória de infância.
Há tempo para tocar na areia e sacudi-la da nossa pele já queimada.
Há tempo para amar em segredo sem corpo e sem espaço.
Há tempo para pensar que tudo o que se passa á volta é efémero e por isso tão precioso.
E por falar em tempo...fico a contar os dias para lá voltar para a semana.


 

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