sábado, 4 de dezembro de 2010

Palavras par viajares...

Ainda nesse breu da quase aurora invernal
escapa-te a cor ocre dos chaparros,
o movimento sensual dos seus troncos desnudados neste verão que passou.

Como sempre, escapa ao mero passante, a arte de despir as árvores,
a mudança de manto rasteiro ao seu redor,
a ausência dos animais e dos insectos,
porque é tempo de hibernar.

É tempo de recolhimento porque o corpo pede á mente;
É tempo de olhar as fugalhas estaladiças numa lareira que por algum tempo pode ser a nossa;
De cheirar o calor dos corpos abafados pelos lençóis;
Esperar que as filhós levedem no alguidar
E sentir através da janela o frio que imagina a neve por além.

É tempo de acariciar todas as palavras que se vão dizendo
porque temos mais tempo para repensar o acto de acordar
para a vida e para as paixões.

Quando entrares no Caldeirão o céu já estará mais próximo de ti
E a terra gritará a tijolo.

Não notarás a diferença entre alfarrobeiras e amendoeiras;
As lendas moiras ainda não desabrocharam em branco;
As chaminés preguiçosamente libertarão os primeiros fumos arrendados a cal
Porque, então, o sol trará o cheiro a café e torradas.
E no mercado de Loulé já haverá frésias apanhadas em Monchique.
O Paixanito e... a sua lista infindável de acepipes.

E quando estiveres de regresso depois de tanto pedalares
poderás pensar em tudo o que  poderás ter apreciado
ou talvez só memorizado-
em efémeros segundos-
se a velocidade dos teus pensamentos não te tolhesse o tempo da contemplação.

Um dia vou ensinar-te a viajar no tempo :-)

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