quinta-feira, 2 de julho de 2009

ARLES , estória de paixão em pedra


Segui o guia local de Arles que se ocuparia de nos mostrar toda a história e património de uma cidade tranquila, esquecida e mantida deliciosamente nas suas várias épocas áureas.

Se houvesse musica para acompanhar esta visita, seria o Stabat Matter de Pergollesi conduzido por René Jacobs, que passei a assobiar timidamente.

Roma está no coração da cidade e por muito que queiramos sair da latinidade sobrevivida ás intervenções de recuperação integral ou "face lifting"......não podemos.
Sentimos que estamos algures no sul do mundo romano onde a pedra se impunha aos oradores, a forma ao Rhône , e o ocre do calcário ás cores das janelas venezianas.

Não há romance que consiga transmitir o sentimento de êxtase emocional perante toda esta megalomania arquitectural.
As cigarras tocam estimuladas a pilhas á volta do teatro romano ; o rio é calmo e não se altera ; o ar é limpo e deixa espaço a uma luz rarefeita.

Seria esta a luz a mesma da decadência de Roma Ocidental ?

A conversa na mesa ao lado, escutada inadvertidamente transporta-me para um universo cultural gigantesco que pode ser contido e guardado secretamente na esplanada da Praça Henri de Bornier. O actual director de arte do Louvre, aprazível figura Aquilina de descendência Italiana cede um final de tarde quente a 2 jornalistas Americanos ,entre uma taça de vinho e uma tábua de queijos.

Robert Doisneau esteve aqui e deixou algum do seu legado a uma escola superior de fotografia.

Van Gogh, aqui viveu a sua breve experiência de artista e de homem apaixonado e aqui morreu.

É bom sentir-me "fisicamente "próxima de duas figuras que tanto contribuem para o meu bem-estar. Sobretudo estar próximo dos mesmos lugares onde sei que estes se emocionaram e extroverteram esse alter-ego que ainda sopra nas brisas através de ruas tortuosas e labirinticas deste aglomerado de passagens históricas.

O algodão passa rente e cola-se a alguma humidade que existia para nos relembrar que as cidades nasceram do campo; essa paisagem que apela o homem a construir algo que pretensiosamente o impele a criar algo que pode vir a ser comparado como obra soprada pelo génio de Deus.

Não é inócuo o facto de um idioma ser um vinculo emocional que retrata a essência de um povo.
Não sei em que língua me expressar quando aqui estou.
O português sinto-o visceralmente assim como o francês por sinergia ; o inglês poderia cortar a poesia emocional contida nas várias vísceras enaltecendo o pragmatismo narrativo ; e o italiano manipularia a forma.
Escolhi o português e sinto a estranheza de soar a estrangeiro neste vasto mundo sensorial.
Hoje digo : " Long live the epicuristic!"


2 comentários:

  1. :)
    boa sorte para o novo blog!
    sinto-me um pouco madrinha...

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  2. Gracias, cariño!
    Estou a gostar....so far, mais da parte gráfica.
    LOl!

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