quinta-feira, 9 de julho de 2009

A Soberba


Aqui fica o melhor retrato da pretensa"elite"portuguesa e perdoem-me se me desgosta a soberba como bandeira do Ser em Portugal.
Afinal , quem não é ..... só poderá parecer.
E que me desculpe a Clara Ferreira Alves de me servir de um excerto que publicou há 2 semanas no Expresso, mas aí encontrei a melhor maneira para me exprimir a um Domingo de manhã onde a preguiça se apoderou de mim e quando reflicto sobre a controvérsia emocional que é apresentar este país aos estrangeiros como guia-Intérprete.
Contudo, não poderia deixar de exaltar o infeliz desagrado que me provoca esta mania de pretenso estatuto social que lidera a primazia do Estar em Portugal remetendo a mentalidade portuguesa para a arca da insustentável precariedade do Ser.
Quem me pode explicar este marasmo em que caímos desde que demos o país a governar aos Ingleses durante a fuga do rei para o Brasil?
Também lá se viveu de aparências quando tiveram que enrolar as sedas trazidas da Índia para esconderem a falta de cabelo de que toda a côrte e realeza padecia.
Aqui e agora é assim :

"Há uns bons anos, políticos, economistas, empresários e outros crânios sortidos, decidiram que o modelo de transporte individual devia ser "implementado" (neologismo inventado pelos mesmos crânios) em detrimento do transporte ferroviário. E que a nossa ligação á Europa assentava na rodovia e na aviação. No resto da Europa construía-se o Channel e a rede de alta velocidade. Durante o Cavaquismo, a decisão rasgou as estradas e auto-estradas que por aí andam (....).
Os portugueses pagam uma fortuna em portagens. A desertificação acentuou-se e vilas e aldeias deixaram de ficar no roteiro e caíram no esquecimento. Ninguém conhece Portugal, atravessa-se Portugal. A CP, essa relíquia,destruiu estações de caminhos de ferro e acatou o domínio do automóvel. O país servido por comboios foi abandonado. O Portugal dos patos bravos e dos novos-ricos floresceu com estes visionários, e juntou-se ao pacote de destruição compulsiva da paisagem e do ambiente, a mania avulsa dos estádios de futebol, dos apartotéis e dos condomínios fechados. Uma volta por Portugal dá-nos a medida deste desastre. (.....).
Lembro-me de ter esta discussão com um ministro que me respondeu que os portugueses podiam e deviam ter direito aos seus carros novos, mais do que um por família, como os outros "europeus".
Os estrangeiros que desembarcam neste país pobre e periférico ficam admirados com a nossa frota automóvel. Em nenhuma estrada de Espanha se vêem tantos carros novos como em Portugal. Trocar de carro de dois em dois anos é uma obrigação. O carro é a casa e o símbolo do sucesso.
Este deslumbramento acabará, pelas razões conhecidas. Um dia teremos as nossas cidades escavadas com parques subterrâneos inúteis. Alemanha, Republica Checa, Polónia e Irlanda apostam nos tróleis e eléctricos, Londres tirou os carros da cidade e em Madrid os carros de um só condutor pagam maior portagem. Em Lisboa, cidade despovoada, há engarrafamentos no fim-de-semana. O litoral é um imenso subúrbio. E até construímos um Autódromo no Algarve.
Achamo-nos, em vez de perdulários, pitorescos."

Dói muito constatar que esta é mesmo a realidade portuguesa e ainda mais dói quando se viveu em vários países da Europa e se constata que apesar das médias de informação e educação dos vários tecidos sociais Europeus não contrastem largamente do nosso, a mentalidade é realmente o nosso handicape.
Vivemos como Janus, com a cabeça dividida entre o passado e o futuro, lição saudosista implementada pelos Lusíadas e revivida feroz e popularmente durante o período Salazarista.
Fazia-nos falta outra epopeia de descobertas, mas agora, ao nível do SER.

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