sábado, 25 de dezembro de 2010

Desmaquilhante de Natal

Faz precisamente um ano que me encontrava em estado depressivo e para que não fosse notório brincava ao Natal com todos. Fiz todas as refeições com quem tinha que fazer, troquei presentes com quem tinha que trocar e passei praticamente o tempo em casa amargurada com a sorte da minha vida, ou falta dela, pensava, então.

A falta de sorte na minha vida era atribuída ao facto de não ter uma família minha. Sem conjugue nem crianças comecei a cair na esparrela que a sociedade prepara aos solteiros de meia idade: sem família não se pode ser feliz no Natal....nem em geral.

Ora, hoje, escrevo exactamente para vos contar do que aprendi com muita calma e atenção sobre o que retive deste período festivo que mostra toda a falsidade desta máxima em sociedade.

1º Nem todos escolheram o conjugue com quem vieram a formar família e se o fizeram , por vezes, foi por não quererem ficar mais tempo sozinhos com receio de nunca poderem vir a formar a tal família cobrada pela sua própria família ou ainda por julgarem que não haverá mais ninguém disponível para os amar. 
Os defeitos só pesarão na gerência quotidiana após o nascimento do primeiro filho  e eis quando se começa finalmente a conhecer o conjugue e as consequências da escolha.


2º A maior parte dos casais não têm noção do passo que é a maternidade/paternidade na transformação dos seus quotidianos e a exigência que a educação pressupõe para não se criarem adultos desequilibrados ou monstros.
Falta de tempo, paciência, assertividade e carinho são desculpadas assíduamente com presentes com que se podem distrair as crianças até á fase da adolescência. Depois, começa-se a pagar a factura.


3º Se a vida sexual do casal, enquanto casal não era vivida em plenitude e com entusiasmo....depois da maternidade, acaba de vez e passa-se á desculpabilização do factor de responsabilidade de encarregado de educação, tenham ajuda de terceiros, ou não. 
Acaba o casal e começam as relações extra-conjugais ou os estados depressivos conduzindo o individuo a estados compulsivos de variadas naturezas. Isto, está claro para os que insistem em permanecer casados, mas solitários.


4º A nossa família não a escolhemos, herda-mo-la ao nascer; assim como aos sogros que vêm por acréscimo; e assim que se passa a ter a própria família, por vezes, tensões surgem que nos vão afastando das nossas famílias nucleares assim como dos sogros herdados. A não ser , claro está , que as relações sejam completamente protocolares e superficiais.


5º Os meus amigos divorciados acabam por ser os mais divertidos e bem dispostos durante esta época : não têm que estar com os sogros com quem, especialmente nunca gostaram de privar e podem sempre optar por partir para umas pequenas férias para a neve com os pequenos. E ainda se podem dar ao luxo de escolher com quem querem passar este período tão emocionalmente desgastante,pois têm a desculpa de quererem estar a usufruir a 100% das suas crianças.
Ao contrário do que se diz, os psicólogos chegaram á conclusão de que se os pais mantiverem uma relação sã pós divórcio, as crianças serão tão ou mais felizes do que numa família de "faz de conta".
E as crianças só têm a ganhar, pois levam sempre o tempo e a dedicação exclusiva de cada um que tenta sempre dar o seu melhor.

6º Os casais que sobreviveram com as suas famílias e descendência são casais que desde sempre tiveram muita cumplicidade no seu quotidiano e como tal o sucesso familiar é visivelmente sem esforço e amargura, pois a nomenclatura sólida da relação foi baseada na partilha e comunicação. E esse é o meu conceito de família. 


7º O conceito de presentear os mais próximos durante esta época resulta quase sempre num balanço de pagamento de factura pelos pecados cometidos durante todo ano. A corrida aos presentes mais dispendiosos para agradar no final do ano é obviamente um sentimento de culpa pela falta de todos os outros valores intrínsecos ao conceito de família. E não seria mais apropriado dar o tal presente num momento assertivamente recompensante ?
Porque não presenteamos o ente querido quando este nos mostra o desejo por tal?


Ora, depois de constatar tudo isto, o que me leva a estados depressivos durante esta época?
Ter que lidar com situações de "faz de conta" durante as várias refeições festivas , supostamente , de confraternização e não de acção de maquilhagem como acabam por ser;
Ter que trocar presentes quando não tenho vontade de o fazer;
Ter acreditado até recentemente que ter uma família era o conceito de felicidade máxima e de estabilidade emocional para a minha sobrevivência.


Este ano fez-se luz por tudo o que tenho vindo a constatar ao longo destes anos e finalmente posso dizer que agora sim, já posso decidir que tipo de família quero...e não é nada do que vejo á minha volta; excepto concretamente algumas famílias que guardam consigo o belo segredo da conquista e trabalho afectivo diário; pois como já é do conhecimento comum, nenhum bebé sobreviveria mais do que poucos meses sem amostra de amor e afecto.
E de crianças amadas crescem grandes homens e mulheres.


Um ano cheio de amor, partilha, comunicação, cumplicidade e dinheiro para manter tudo isto mais fluído :-)


E ainda um grande xi-coração ao meu irmão por ser como é !





3 comentários:

  1. Acho que vou deixar de falar contigo. Primeiro porque me percebes muito bem e segundo porque me fazes entender-me a mim mesmo ainda melhor...

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  2. Menina Almablue, já vi que o Natal foi uma época de reflexão...;)
    desejo-te um fantástico ano novinho em folha* ana

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  3. Se continuar a reflectir assim, só pode correr bem :-)

    Um óptimo ano para vocês!!!
    Talvez nos vejamos para os Reis....com os tios!
    Beijos

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