domingo, 6 de maio de 2012

Uma série de eventos pouco prováveis - II- Pug - de Mercúrio

Com a agente D aprendi que era importante fazer uma investigação linear do perfil dos clientes com quem vamos trabalhar por algum tempo , nem que seja um só dia.
 A inteligência emocional é cada vez mais necessária para a captação de atenção do cliente em relação ao que queremos que seja importante durante a sua visita e conhecendo um pouco do mundo do cliente poderemos partir á conquista dos seus interesses e introduzir a realidade portuguesa como parte de um deles.

Pug é uma raça canina conhecida pela sua aptidão algo teimosa de não largar a presa. De focinho achatado,  corpo maciço e pequeno , pode designar-se como um cão que pode dar alguns problemas se bem treinado.
O meu cliente, também assim cognominado, não tinha ar de ter dado ou vir a dar algum problema ; mas quem sou eu para saber julgar carácteres...

E, como logo no primeiro dia me apaixonei pelo facto deste senhor deter vastos conhecimentos  da nossa cultura e história, esqueci-me de sondar o seu nome no grande motor de busca da nossa era.


Ao terceiro dia por ainda não ter obtido nenhuma confirmação conclusiva da sua formação ou profissão, agarrei-me ao email da empresa que Pug oficiosamente me tinha cedido como sendo a sua para nos comunicarmos em viagem se necessário.
E mesmo para quem não é religiosa,exclamei :
- Jesus ! - claro está , influenciada pela proximidade com a agente D.


Após ter descoberto que o meu cliente tinha sido o responsável pelo golpe financeiro da Enron que ajudou nessa altura a empresa petrolífera de Bush... não sabia como é que o iria encarar no dia seguinte. Muitas outras coisas não tão melhores ficam por dizer ,mas todas elas vêem bem explicitas na página da International Corruption Org. e com a sua foto bem vísivel para que como sempre, eu não pudesse contornar este perfil sob pena de cair na tentação de pensar na possibilidade de existirem dois homens com o mesmo nome e assim , desresponsabilizá-lo.


A semana decorreu muito intensamente, pois acima de tudo, Pug é um homem-renascença , humanista e ex-reitor de Harvard - destituído aquando do escândalo financeiro que levou a Enron á falência.

A sua esposa, Dee, designada pelos norte americanos como tipo Alfa ( capacidades de leader e carácter dominador ) desvendava progressivamente um Pug generoso, justo e resignado ao ditado : "what goes around comes around ". 
Nas suas longas divagações sobre o grande Oriente não faltavam referências ao protocolo do governo a que se tiveram que sujeitar e que muito já diziam sobre a facção republicana. 

E foi com o Oriente que começámos a programar uma possível viagem a Kerala e a Burma.
Pug, ouvia e sabia que estava excluído destes planos futuros e são nestes momentos de cumplicidade e de partilha que os momentos ficam associados a histórias , lugares,  odores e sabores ; como nessa tarde de Abril na Foz do Porto com uma forte envolvente a iodo e a café onde discretamente tirei uma foto a um homem que não pensei vir a ter o mínimo de simpatia.

Os seus conhecimentos históricos eram vastíssimos e a sua neutralidade religiosa, embora judeu de origem, era admirável.
Pragmático e com sentido de humor, Pug fez-me uma pergunta que lhe valeu a minha admiração incondicional :
- No séc.15, assim como os portugueses andavam a delinear a costa Africana também andavam os chineses com as suas embarcações bem preparadas e com homens tão meticulosos em matemáticas como os árabes. A sorte dos portugueses foi essa dinastia chinesa não estar interessada em colonizar terra , senão que língua se falaria hoje em Portugal ?


Adoro reptos culturais para os quais as respostas são como a imaginação :  do tamanho do nosso universo !


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