Alguém parte uma laranja em silêncio, à entrada de noites fabulosas. Mergulha os polegares até onde a laranja pensa velozmente, e se desenvolve, e aniquila, e depois renasce. Alguém descasca uma pêra, come um bago de uva, devota-se aos frutos. E eu faço uma canção arguta para entender.
Inclino-me para as mãos ocupadas, as bocas, as línguas que devoram pela atenção dentro. Eu queria saber como se acrescenta assim a fábula das noites. Como o silêncio se engrandece, ou se transforma com as coisas. Escrevo uma canção para ser inteligente dos frutos na língua, por canais subtis, até uma emoção escura.
Porque o amor também recolhe as cascas e o mover dos dedos e a supensão da boca sobre o gosto confuso. Também o amor se coloca às portas das noites ferozes e procura entender como elas imaginam seu poder estrangeiro. Aniquilar os frutos para saber, contra a paixão do gosto, que a terra trabalha a sua solidão - é devotar-se, esgotar a amada, para ver como o amor trabalha na sua loucura. Uma canção de agora dirá que as noites esmagam o coração. Dirá que o amor aproxima a eternidade, ou que o gosto revela os ritmos diuturnos, os segredos da escuridão. Porque é com nomes que alguém sabe onde estar um corpo por uma ideia, onde um pensamento faz a vez da língua. - É com as vozes que o silêncio ganha.
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