Algo que tenho que partilhar convosco e sendo hoje, uma sexta-feira, 13...vamos poupar mais umas cabeças !
Traduzi do francês, um artigo do jornal alemão Stern de Hamburgo que achei curioso, vindo de quem vem..... :
" Há cinco anos atrás o mundo parecia ser ainda o que julgavamos ser. Na cimeira dos G8 (organizada pela Alemanha em Junho 2007 nas margens do mar Baltico) em Heiligendamm, os chefes do Estado americano , japonês , alemão , francês , britânico, italiano , canadiano e russo reuniam-se para se concertar a ordem do mundo. Mostravam-se em sofás de vime, emitiam um comunicado e prometiam fundos a Àfrica. Uma legião de jornalistas, de manifestantes e de policias rodopiavam á volta destes. Nada deixava parecer que esta cimeira assinava o fim de uma época.
No Outono do ano seguinte, o desmoronamento da banca Lehman Brothers marcava o inicio da crise financeira que dissipou milhares de dolares pelo mundo, mas que sobretudo acelarou prodigiosamente uma tendência já sensivel : o declinio do Ocidente e a subida em peso do resto do mundo. Doravante, desde que os grandes chefes de Estado se concertem, já não são sete ou oito, mas mais de vinte como em Cannes em Novembro de 2011. E já não são as potências europeias e os Estados-Unidos que dão a lição á Àsia ou á América Latina, mas o inverso. A China preocupa-se com a dívida Americana, a presidente brasileira ( Dilma Rousseff) exige da Europa que esta mostre a sua " vontade politica", o governo da banca central indiana (Duvvuri Subbarao) pede-lhe que tome decisões dificeis, e mesmo a Africa do Sul pergunta-lhe mesmo se não deveria comprar obrigações europeias para apoiar o Velho Continente.
A ascenção da Europa começou no sec. XV, mas é só com a revolução industrial, no incio do sec XX que ela acelarou. Até então os centros do mundo eram noutro lado : por volta do ano mil, os cientistas árabes estavam muito avançados em relação aos do Norte.
A China tem cidades com mais de 1 mlhão de habitantes desde o sec.IX. Há mais de um meio seculo antes de Cristovão Colombo, o almirante Zheng He explorava as costas de Àfrica e da Península Arábica e face á sua frota impunente, as caravelas* do nosso explorador genovês daria ares de débeis esquivos .
A racionalização do pensamento que caracterizou as Luzes foi determinante para a ascenção da Europa : as gerações futuras não deveriam gozar de uma melhor existência pela graça divina, mas graça ás novas ideias que se tinham imposto. Quando em 1897 , a rainha Victória celebrou o seu jubileu de diamante ( 60º aniversário do seu reinado), ela tinha um quarto da população mundial entre os seus subditos. No sec. XX, os Estados-Unidos tornaram.se a primeira potência do mundo e a hegemonia mundial permaneceu ocidental.
Para nós, esta ordem do mundo é quase uma lei da natureza. É quase a conclusão da história da humanidade: á estação vertical e á domesticação do fogo, secederam-se o desenvolvimento da escritura, o dominio das forças da natureza, a ruína das ideologias totalitárias. E uma sociedade democrática formou-se ,que certamente sofreu contrariedades, mas que possui um poder de atração que mais nenhum modelo a pode suplantar. No incio dos anos 90, na euforia da victória sobre o campo comunista, o filósofo (americano de origem japonesa) Francis Fukuyama, fantasiava mesmo sobre o " fim da história". Cada filial de McDonalds que abria na China ou na Russia pareciam ser a prova.
E, no entanto, se é uma verdade banal, a história não acaba. A era ocidental chega ao final. Os países "emergentes" contribuem já tanto para a produção mundial como os G7. E vão-nos brevemente suplantar. A China é , na história, o primeiro país a indicar taxas de crescimento tão elevadas durante tantos anos a fio. Em 2027, ou mesmo antes, poderá vir a ser a primeira potência económica mundial.
A ascenção da China representa un desafio ideológico para o ocidente. A noção de " modernidade" já não é automaticamente associada aos valores como a liberdade de opinião. Pequim mostra que o triunfo económico não leva necessariamente a um reforço da democracia. Este modelo inquieta-nos - em África muitos Estados estão seriamente tentados a acertar o passo com os chineses , mais do que continuarem a deixar o Ocidente dar a sua lição sobre a questão dos direitos do homem.
O que há a dizer para nós , ocidentais?
Nós cremos que a nossa visão do mundo é absoluta , intemporal. Nós consideramos a tolerância, por exemplo, como uma invenção ocidental dos tempos modernos, então que na Época Medieval os muçulmanos que dominavam a península Ibérica autorisavam a liberdade de culto, mais do que os seus vizinhos cristãos. A sombra que fazemos obscurece a nossa visão do futuro. Escutamos as informações internacionais na Deutschlandfunk ( radio publica alemã) ou na BBC e igoramos que em vastas regiões do mundo os canais Al-Jazira, NDTV (sediada em Nova-Deli) e CCTV ( em Pequim) dão o tom. Cremos que a ordem ocidental é a mais justa - e não nos questionamos se não será preferível que a China, que representa 20% da população mundial, domine o mundo em vez dos Estados-Unidos.
""É um paradoxo, escreve o historiador Paul Cohen. Os Ocidentais, que mais do que alguém contribuiram na criação do mundo moderno são exactamente os mesmos a não o compreenderem.""
Um dia, acordaremos e apercebere-mo-nos que o mundo se transformou noutro. Até lá podemos ainda manter os olhos fechados algum tempo. Ou podemos nos preparar.
Marc Goergen
* individamente utilizado como embarcação genovesa...talvez na pretenção de dar um valor de supremacia na navegação, normalmente atribuida aos portugueses :-)
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