Quase me esqueci de guardar o cheiro dos campos de Albarraque ao final do dia,
vagueando como fazia
no meu mundo solitário de criança.
Quase, e enquanto me entregava a ti...a esses cheiros voltava,
tal a liberdade de ser feliz sozinha,
mesmo que a dois, nesse instante.
E quase, nessa liberdade desenfreada de amar o mar que jorrava do teu desejo,
me afogava,
no meu desejo por ti.
Distâncias de braçadas intermináveis nos mares do Algarve,
risadas a lágrimas nas areias quentes do Meco,
ronronares dos meus gatos elegantemente aninhados no meu colo
e as faustosas refeições no alpendre da casa isolada na Costa Alentejana...
tantos sabores, odores de felicidade gravados no meu olhar,
esse mesmo, que de vez em quando olhas,
sem saberes o que quer dizer
quando te fixo...
só na esperança de poder guardar o teu olhar como :
o mar, o campo, o riso e o alpendre da minha casa...
onde não queres entrar.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Esqueci-me de mim, enquanto buscava o prazer contigo. Esqueci-me de te dizer que: sou especial.... se não reparaste; que sei que não sentes... para não vires a sofrer. Esqueci-me que amar dói....mas sem amor não sei viver. Esqueço-me que tens de merecer este amor... mesmo que nada te cobre por ele. E esqueço-me sempre de me esquecer um pouco de ti. Esqueceste que não tens mais ninguém que te ame assim... como eu... a dois. Esqueceste, simplesmente de te deixar levar pelo amor; de apreciares o seu sabor, o seu valor.
Um dia destes vou esquecer-me de ti... E nesse dia... não te vais mais esquecer de mim !
Hoje quando abri o Diário de Negócios deparei-me com um artigo do Leonel Moura, artista da nossa praça e individuo que tinha com alguma erudição - e para quem seja mais distraído, o Leonel foi quem fez as instalações das oliveiras em bancos de plástico á beira Tejo de que tanto gostei.
Na sua viagem a Bombaim, Leonel estava chocado com a miséria que havia ao seu redor e logo á esquina do famoso hotel onde ficara hospedado : Taj Mahal. Insistiu em revelar as estatísticas de quantos dormiam em grupo na rua , sós ao relento e finalmente os que tinham um telhado...16% da população de Bombaim.
A mim , estes relatos já não me chocam por saber que a religião hindu com o seu complicado e hierárquico sistema de castas segregam desde a nascença a população Indiana e por ser uma democracia politica e não religiosa....um factor é subalterno ao outro e não há grande coisa a fazer.
Os Indianos são os próprios a acatarem essa decisão" imposta" pelo divino e como tal sorriem e nunca parecem descontentes, nem quando mendigam.
Pois, é Leonel, a miséria é realmente algo que vem de dentro para fora e que não se deixa por crenças ou por falta de espírito guerreiro.
O medo da morte assombra os ocidentais que por receio do desconhecido preenchem as suas vidas materializando-as...antes que se lhes acabe o tempo. No Oriente, a serenidade da morte retira qualquer ambição natural pelo materialismo, pois já sabem aquilo que os espera....para bem ou para o mal. A diferença é que nós temos que escolher entre o céu e o inferno com o perigo de ficar pelo inventado purgatório; e eles já nasceram com passaporte para uma outra vida que nunca será comprada a suor de trabalho nem de esforço social.
Não são os dias chuvosos que desencantam Nem as noites frias que desacalentam. É o tempo em que a ténue passagem pelo amor se faz revestida a camadas de muita roupa....